sexta-feira, julho 29, 2011

Respostas apropriadas a perguntas importunas



É menino ou menina?
Hum... vamos ver. Não tá com lacinhos nem frufrus no cabelo, nenhum carocinho de quiabo na orelha, nem mesmo um vestidinho cor-de-rosa. Em vez disso, tá usando uma calça azul-marinho e uma camisa de lista. Bem, se a tendência para as coleções primavera-verão-outono-inverno não inclui nenhuma androgenia na moda infantil, só me resta afirmar que até agora é um exemplar do sexo masculino.

Ele dorme à noite?
Mas por que ninguém me pergunta se eu durmo à noite? Não sabem que mesmo se revoltando com as canções de ninar e fazendo um samba do crioulo doido pra não se entregar ao sono e acordando a cada 50 minutos para protestar contra o repouso noturno, a criança enfim adormece. E no dia seguinte não é ela que se arrasta pelos cantos da casa com orelhas que vão até o pé e bocejando como um hipopótamo na lagoa.

É muito arteiro?
Nem um pouco, nossos amigos não nos convidam mais para ir às suas casas por causa da crise econômica e da violência urbana. E quando algum se arrisca a fazer essa gentileza, logo sorri amareladamente, “oh, queria tanto que minha casa fosse adaptada para receber um menino tão brincalhão”, e você responde “e eu só gostaria que ele não quebrasse aquele vaso de cristal e eu tivesse de vender a alma para pagar”.

Ele já tá andando?
- Não, ele não anda. Nunca aprendeu a andar. Assim que se firmou sob as duas pernas e sentiu-se seguro para movimentá-las, acelerou o passo e não parou mais. Dizem que aos cinco anos, ele para de correr e começa a caminhar. Eu duvido muito, depois que padecer no paraíso se tornou pra mim mais uma frase do império das meias-verdades, eu deixei de acreditar em fantasias como duendes verdes e chás de camomila. 

Ele já fala?
- Sim. Conhece todos os objetos da casa pelo seu respectivo nome, sabe os primeiros números e já se aventura pelo mundo das letras. Mas diz tudo isso numa linguagem cifrada que só os seus pais reconhecem e é incapaz de dar demonstrações dessa proeza só para impressionar os outros. Age dessa maneira porque tem medo que percebam o seu brilhantismo e o isole numa escola para crianças superdotadas.

quarta-feira, julho 27, 2011

O Taz e as uvas



- Você ouviu o que disse aquele doutor?
- Não, o que?
- As crianças devem comer cinco porções de frutas ao dia.
- Podemos dar duas uvas de manhã, mais duas à tarde e uma à noite.

De fato, é a única fruta que o Taz come no seu aspecto natural, sem ser liquidificada e misturada com açúcar e água. Oferecer-lhe um pedacinho de maçã ou um gominho de laranja é como apresentar-lhe um espetinho de lesmas. ARGH!! Ele também gosta de banana, mas aí não conta né? Se existe um princípio absoluto de que o leite materno é o primeiro alimento do bebê, o segundo é a banana. Qualquer dia desses, os cientistas descobrirão que ela é o verdadeiro elo perdido que nos ligam aos macacos.

O problema é que a uva é um troço muito complicado para pequenas pestes comerem. Há o perigo de sufocamento ou de engolir as sementes e no futuro urinar Dom Bosco. Então você deve despelar com todo o cuidado para obter o máximo de polpa possível e depois eliminar os carocinhos junto com o filamento. O que sobra são os destroços do que era uma fruta. E ao ver esses restos mortais, o Taz entra em crise e começa a gritar: ”Ufa, ufa, ufa!"

Penei até encontrar um método de mantê-la inteira, esplêndida na sua forma cilíndrica. É preciso fazer um corte central sem separar as partes, retirar tudo o que é desnecessário, fechar e entregá-la como se intacta ainda fosse. E o bagaço? O Taz detesta qualquer coisa que demore mais de dez segundos para ser triturado na boca. Quando percebe que a casca não vai se desmanchar, cospe fora. Onde? No aterro sanitário de toda criança da sua idade: o tapete da sala.

segunda-feira, julho 25, 2011

O que repousa na luz do abajur?


Ando me sentindo uma ignorante de tudo e todos. Acredita que só soube da morte de Amy um dia depois? É um atraso milenar no mundo atual. Para amenizar o fato, só contando a novidade pra alguém mais desinformado que eu.
- Amor, Amy Winehouse morreu.
- O que?
Esmerando no sotaque.
- Emi Uainiraus bateu as botas, se foi.
- E quem é?                                                                                 
- Aquela cantora doidona, com topetão e uma vida mais desordenada que balaio de gatos.
- Ahhh... o que aconteceu com ela?
- Tá grávida do porteiro do prédio.

É frustrante, eu sei. A despeito disso, persisto em aprimorar o meu intelecto, abrir as portas da minha mente para o conhecimento. Um bom livro em cima do criado-mudo é o primeiro passo. Quem sabe se dedico quinze minutos por noite à leitura, até o Natal eu termino. Mas consegui esse tempinho é uma tarefa escabrosa, devo mandar oTaz pra cama mais cedo.

Infinitas manobras depois para fazê-lo adormecer, volto a pensar que durante os nove meses de gravidez meu filho recebeu um treinamento militar para suportar todas as tentativas de fazê-lo adormecer. Eu me finjo de morta, e a situação não muda. Ao contrário, a pequena vuvuzela se transforma num ensandecido paramédico que faz de tudo para me reanimar. E tome na tapa na cara.
- Mamãe?
- Plaft!

Quase quarenta minutos e ele dorme, e eu sobrevivo, apesar da surra. Agora poderei ler alguns capítulos. Mas lembro que é noite de sexta-feira. Então...
- Querida, cheguei!!

Oh, não, meu livro. Não, não! Ahhh... sim, sim! SIMMMMM!!

E com isso, O que toda mulher inteligente deve saber, jaz sob a luz do abajur, carente de atenção.

quinta-feira, julho 21, 2011

Meu erro



O que um homem mais deseja ouvir de uma mulher? Bem, se são casados há algum tempo, evidentemente não é a frase "eu te amo". Experimente pronunciá-la e obterá respostas como ”Eu já sabia” ou “Estourou o cartão de crédito mais uma vez?”. Dependendo do grau de sarcasmo que seu matrimônio alcançou, pode ouvir somente “E daí?”. Atenção, neoesposinhas, não se assustem e nem façam o sinal da cruz, esse tipo de comportamento é a evolução natural do ser humano. Ele nasce, cresce, se casa, entra em decadência e morre.
Mas voltando à provocação inicial. As palavras que fazem seu companheiro espichar as pregas da boca até a orelha é... tchan, tchan, tchan: "você tem razão meu amor". Segundo uma teoria sueca, quando isso acontece parece que os colhões incham no esforço de produzir mais testosterona para alimentar a empáfia masculina. E se você não diz o que eles querem tanto ouvir, desencadeia um processo de abstinência da soberba. O indivíduo bufa de raiva, soca as paredes, mija nas calças e alguns até babam, implorando que você reconheça que a verdade está com ele.
Por outro lado, se recusam a admitir seus erros. Meu marido, por exemplo, não confessa seus pecados nem diante das situações mais vexatórias.
- Hoje de manhã você deixou uma lembrancinha pra mim.
- Onde?
- No vaso sanitário.
- Tem certeza que era meu?
- Com a minha prisão de ventre, só outra pessoa nessa casa poderia ter defecado nas últimas horas.
- Qual era a cor, o tamanho, o cheiro?
- Você acha que eu ia ficar olhando aquele cocô boiando? Dei a descarga imediatamente.
- Querida, um conselho: quando for acusar alguém, conserve a prova do crime.
- Querido, um conselho pra você também: vai cagar.

terça-feira, julho 19, 2011

Por onde ando...


No supermercado
- Vamos pegar aquela fila ali, tá menor.
- É pra deficientes, idosos e gestantes.
- E quem vai querer desmentir essa barriguinha ...
- Prefere apanhar aqui mesmo ou em casa?


- Então essa aqui, só tem um cliente.
- Olha disfarçadamente pra cestinha dele.
- O que tem?
- Repara. Tá cheio de ki-sucos.
- E daí?
- Daí que esses envelopinhos têm mais variedades que loja de 1,99. Até ele passar todos esses sabores: laranja, morango, pêssego, uva, manga, abacaxi...


- Vem, achei uma perfeita. Viu, ela só tem uns produtos de limpeza pra passar.
(Caixa) – Minha senhora, acho que o seu amaciante derramou.
(Cliente) – Não acredito! Melou todas as minhas compras.
(Caixa) – Isso acontece porque os clientes abrem o recipiente para cheirar.
(Cliente) – Mas não havia ninguém naquele corredor. Só uma mulher com seu marido...
- Querido, acho que essa fila vai demorar. Vamo procurar outra?

No bairro
Outro dia fiquei indignada com a peãozada que trabalha perto da minha casa. Quando eu passava em frente da obra, um deles gritou.
- Eita! Olha a mamãe gostosa que tem aquela menininha.
Ah que absurdo! Confundiu meu filho com uma menina!

Em casa.
Agora falta pouco para a cirurgia plástica do meu nariz. Mais uma cabeçada do pequeno Taz e meu septo nasal esbagaça de vez.


sexta-feira, julho 15, 2011

Por que hoje é o dia dos homens?



Não sei. Mas na França se comemora no dia dois de agosto. Parece que Napoleão em uma de suas grandiosas batalhas ordenou a seus soldados que estivessem perfeitamente sincronizados. E assim, os homens que usavam fuseaux apertadíssimos deveriam arrumar suas duas bolas à esquerda – les deux á gauche em francês. Com o tempo, virou o dia dois de agosto.
Então viva a festa das bolas!

quinta-feira, julho 14, 2011

Um anestésico para o medo



Quer parar, por favor? Não aguento mais. É um desalento sem fim.  Sabia que tenho um filho pra criar? O que eu vou dizer a ele? “Olha, Taz, tá vendo essa merda toda que tá acontecendo no mundo? Um dia, meu filho, tudo isso será seu.” Pela sucessão de eventos que tem passado diante dos nossos olhos, deixaremos aos nossos sucessores um patrimônio de tragédias e devassidão. E não estou falando da Sandy.

Já não bastasse me sentir um fracasso socio-materno-conjugal, o restante da população ainda colabora fazendo uma cagada atrás da outra. Resumindo, a felicidade humana é um conceito inventado pelos monges do Butão para incrementar o turismo existencial. Epa! Pera aí, você, não é aquela blogueira que faz pilhéria das desgraças alheias, zomba das pequenas crises cotidianas, e uso o sarcasmo para tingir de humor negro o casamento cor-de-rosa?

Sim, sou eu mesma, mas por um dia quero ser uma alienada, uma desconhecedora total dos problemas econômicos da Grécia, das safadezas de primeiros-ministros e diretores de banco. Uma que não leu a última notícia sobre a enésima violência contra crianças. Quero anestesiar meu medo. Caso ainda não tenham reparado, é esse o pão que está alimentando as pessoas. Enfim, eu só quero poder dizer: “Vocês viram? Salvaram uma baleia e seu bebê encalhados numa praia da Austrália”.

terça-feira, julho 12, 2011

Risos em doses homeopáticas




Na antessala do pediatra.

- Que gracinha os dois brincando juntos!
- É sim. Sabe que o meu falou mamãe com seis meses?
- Ah é? O meu também.
- Com nove já andava.
- Que coincidência! O meu também.
- E agora já come sozinho.
- Sério? O meu também.
- O meu tá com escarlatina, o seu também?
- Não... Taz, meu filho, vamos esperar lá fora?


Na hora de dormir

- Mamãe! Mamãe! Boia, boia!
- Agora não.
- Mamãe! Mamãe! Carro, carro!
- Depois, depois.
- Mamãe! Mamãe! Totorre, totorre!
- Amanhã a gente faz.
-Papai...
- Ih, Taz, nem olhe pra mim. Eu também já pedi e ela me mandou deixar pro outro dia.


O pequeno Taz vive assim: "A todo mundo eu dou tchau. Tchau, tchau." E nessa de ser simpático, ainda não se tocou que deve dirigir-se aos mais velhos com o devido respeito. Por isso, nem sempre seus cumprimentos são recebidos calorosamente. As crianças se ofendem quando são tratadas como... crianças.
- Bebê! Bebê! Tau, tau.
A menininha com presilhas no cabelo fecha a cara e do alto dos seus três aninhos passa um olhar do tipo "quem você pensa que é pra falar desse jeito".
- Você que é bebê. Eu sou grande.

quinta-feira, julho 07, 2011

Metamorfose Irritante

Cara leitora habituada às batalhas diárias da convivência marital, você tem três segundos para responder quem é o porta-voz oficial dessa frase “eu não posso abrir a boca pra falar nada”? Sem contar os casais surdos-mudos, pelos quais tenho o maior respeito e apreço (são os únicos que verdadeiramente não gritam um com outro), o único indivíduo que alega insistentemente não haver o direito de se pronunciar no relacionamento é o marido.  

Não faz sentido a mulher recorrer a esse subterfúgio numa discussão porque seria assaz contraditório com a nossa personalidade feminina.  Pela ordem natural das coisas, nós já falamos sem pedir autorização ou mesmo sem esperar que o cérebro da criatura, nomeada por Deus para ser o nosso ouvinte até que a morte nos separe, retorne da zona nebulosa onde se esconde para ver futebol.

Já para o homem, é bastante oportuno usar esse estratagema. Aproveitando da situação entomológica de nos sentirmos culpada até pela cagadinha da mosca no vidro da janela, ele se transforma numa borboletinha sensível e delicada perseguida pela predadora histérica-bipolar- cheia-de-TOCs. E assim ardilosamente diz tudo o que quer valendo-se da falseta de não poder falar nada.

Bem apropriada ao seu propósito, essa metamorfose irritante também é passageira. Como todos sabem, a borboleta vive muito pouco.

terça-feira, julho 05, 2011

Outros fragmentos do cotidiano

Na hora de lavar roupa:
Ela - Essa cueca tá limpa?
Ele – Não sei.
Ela – Como não sabe? Você usou ou não?
Ele – Não me lembro.
Ela – E agora? Preciso carregar a máquina
Ele - Só tem um jeito de descobrir.
Ela – Qual é?
Ele - Cheira pra saber.

E depois de passar:
Ele – Você viu aquele short de tactel que eu adoro?
Ela – Aquele com todas as cores do arco-íris?
Ele – Isso.
Ela - Não vi querido.
Ele - Pois eu sim. Era mantido em cativeiro na gaveta das calcinhas.
Ela - Sério?
Ele - E com uma queimadura de terceiro grau.

Quem cozinha?
Ela - O molho de pesto que você faz é muito bom.
Ele - Eu sou bom em tudo que faço.
Ela - Que cremosidade, que sabor! Como você consegue?
Ele - Ah, tem uma técnica especial para socar as folhas de manjericão.
Ela - Eu sabia que tinha um segredinho.
Ele - Se você quiser, te ensino.
Ela - Não, não. Eu jamais chegaria a seus pés.
Ele - Ah, isso é verdade.
Ela - Então “bom em tudo”: hoje você faz o jantar que eu vou para a manicure, tá?
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