Era inevitável. A gente sabia que um dia isso iria acontecer. E aconteceu num momento de distração, no meio de uma conversa banal, sem que percebêssemos que isso iria ter consequências mais sérias. Falávamos sobre alguém que faltou a uma festa. “Mas ele não veio por que?”. E de repente somos interrompidos por uma palavrinha petulante e insaciável que pede de imediato uma fornada de respostas fresquinhas, sem lhe dar tempo de preparar a massa para a próxima remessa.
- Pequê?
Como era de se esperar, as falas do siligristido Taz nunca vêm sozinhas. Para reforçar o “não” que renega pela enésima vez a papa do meio-dia, ele faz seus cachinhos oscilarem rapidamente para esquerda-direita-esquerda-direita. E quando quer expressar seus desejos incontidos de menino, imprime na sua voz uma entonação teatral em perfeita sintonia com sua interpretação. E foi assim com seu primeiro por que: as sobrancelhas arqueando para exprimir uma perplexidade descabida, os lábios se abrindo dissimuladamente numa atitude de incerteza e as mãos pairando no ar, esperando não se sabe o quê. Não tinha nada de original nessa performance. É a caricatura do pai.
Até aquele momento nossos diálogos envolviam somente cândidas perguntas de localização, “Cadê a mamãe?”, depois “Onde tá o coelhinho?”. Agora a situação se complica. São questões que pedem uma explicação. Um jogo perigosíssimo. Sendo o Taz um fora-da-lei que não aceita negociações. Se você deixar a mamãe trocar a fralda, nós vamos para o parquinho. Nnnnnnnnnnnnon! (esse “não” cuja inicial se perde no infinito é uma das últimas novidades do aprendizado com a vovó italiana); nem mesmo se intimida com as ameaças: Não entre aí. Uhhh, que medo! Ali dentro tem a bunda da mulher-melancia (um pai normal amedronta o filho dizendo “o bicho papão vai te pegar, o lobo mau vem te comer”, no máximo chama o velho do saco, mas aludir ao traseiro da moça? – no comments). Assim, é esperado um ponto de interrogação a cada cinco segundos.
- Hora do banho.
- Pequê?
- Por que vamos pra casa da vovó.
- Pequê?
- Por que ela tá com saudade de você.
- Pequê?
Devo me iludir e pensar que é só uma fase, uma precoce e passageira contestação do mundo.
Que lindo!!!! Isso é só o começo....
ResponderExcluirbjs!!!
É Bobry, a fruta nunca cai longe do pé, então se preparem. hahahhaha
ResponderExcluirQue delícia!
Bjs pros dois.
Continuamos casados porque vivemos numa sociedade hipócrita que não permite exercício nossa característica biológica ( que não é a monogamia). Continuamos casados porque o conceito de família é estreito, somos todos irmãos e neste mundo capitalista o ter é mais importante do que o ser! Poderia haver mais irmandade e menos propriedade! A Criação pertence a todas as criaturas, e sua manutenção e uso e responsabilidade de todos!
ResponderExcluirSou nova por aqui, e não vejo a hora desses peques... O Antônio ainda é bebezão, mas eu lembro que eu era uma perguntadora ambulante, então ele tem tudo para ser...hahahaha
ResponderExcluirbjs
Venha conhecer meu blog tb, faça uma visitinha para trocarmos muitas dicas, e experiências!
Angi