terça-feira, agosto 30, 2011

Dez questionamentos para quem quer se dar bem na vida



Se o dourado atrai abundância financeira, quanto poderia ganhar pintando uma casa de 100 metros quadrados?
Se uma fonte de água absorve as energias negativas, deveria cavar um poço até a China para espantar a urucubaca?
Se usasse o meu poder de visualização criativa e mentalizasse uma mudança, amanhã acordaria mais magra, mais jovem e de escova permanente?
Se  acrescentasse uma outra letra ao meu nome, somasse com a minha data de nascimento e dividisse pelo dia do casamento, poderia multiplicar os zerinhos da minha conta corrente?
Se para ter sucesso um alto  Q.I. é o caminho, um alto Q.E. o atalho, um alto Q.A. (Quociente de Asneira) é a porta de saída?
Se devo ativar as energias positivas para obter prosperidade, onde fica o interruptor?
Se O Segredo para conseguir algo é desejá-lo, por que não ganhei uma bolsa Louis Vuitton no meu aniversário?
Se para subir na vida é preciso coragem, não decola quem tem medo de altura?
Se os homens são de Marte, e as mulheres são de Vênus, meu casamento é de outro planeta?
Se uso as 5 técnicas  da persistência, evito os 6 erros do fracasso,  sigo as 7 regras de ouro da felicidade, prático os 8 hábitos de uma vida saudável, cultivo os 9 motivos  para ser otimista  e me inspiro nos  10 mandamentos do vencedor, consigo escrever um livro com os 11 conselhos de um bom mentiroso?

quinta-feira, agosto 25, 2011

Muito além das palavras



Façamos o seguinte: um diletante da psicologia infantil propõe observar o pequeno Taz nas suas façanhas cotidianas, que tipo de comportamento ele descreveria no seu relatório?


É um dedo-duro da própria família.
- A mamma fá baba!
(Denunciando a mãe que está depilando a perna com o prestobarba do papai.)


Há um gosto pelo protagonismo.
- Papai, filma, filma!
(Dando ataque de estrelismo para seu pai tirar uma foto.)


Indícios de ser um mentiroso incorrigível.
- Tá fazendo a caca?
(Se espremendo todo.)
- Noooooon.


Traços distintivos de um profissional da adulação.
- Tanto, tanto!
(Abraça a mãe e tenta repetir a frase "Te amo tanto, tanto" pra poder pegar o celular.)


Por fim, é um déspota em miniatura.
-Meti, meti. Fefeti, fefeti.
(Exigindo imediatamente o espaguete no seu prato.)

terça-feira, agosto 23, 2011

Por que continuamos desempregadas?


Resolvi propor uma questão que atormenta o meu espírito: por que continuamos desempregadas? Conheço um comboio de gente  que é um verdadeiro talento vagante, carregada de disposição, um artigo de luxo, mas estão ali com a mão no bolso vazio, assobiando a canção ninguém me quer, ninguém me ama. O que está acontecendo com o mundo?


Ou melhor, o que está acontecendo com a seção de classicados. Saca só esse anúncio. O candidato ideal para nossa vaga deve possuir os seguintes requisitos básicos: fluência  em inglês  e espanhol mas disponível para transferir-se a Salto Grande, ser experiente mas ao mesmo tempo jovem, ter grande inciativa pessoal e capacidade  pra trabalhar em grupo, tolerância ao stress mas também criativo e dinâmico.


É o meu perfil, posso até passar por uma garota de 24 anos. Olha, nenhuma ruga!


Delírios à parte, é assombroso participar daquela fatia azul clarinho do bolo de estátística sobre o desemprego do IBGE.  Há um grupinho ali de deprimidos, fracassados, pessimistas e potenciais indolentes que me tenta. Um vacilo, e já estou puxando conversa com eles e pedindo pra fazer parte do clube. A dureza da vida de desocupada também faz pensar em soluções pouco decorosaas. Outro dia me veio a idéia de colocar um vestidinho rosa e chamar um bando de energúmenos para me vaiar.


Mas se refletirmos bem, o desemprego traz algumas vantagens para o ser humano. A gente se  torna mais saudável e menos materialista. Vamos ao shopping, caminhamos quilômetros e não compramos nadinha. Brigada querida, tou dando só uma olhadinha. Sobra mais tempo para ficar com os filhos. Que delícia ser mãe 24 horas por dia! Achou encantadora a minha declaração? Então venha passar uma tarde com o Taz.


Não que eu tenha algo contra a ociosidade, desde que ela seja remunerada. Tanto pra não fugir do tema, num matrimônio de escassa liquidez, o único triângulo bem-vindo é o salarial: um é pouco, dois é bom, três é excelente. Sem querer querendo adotar um tom cínico a nossa conversa, mas trabalho e dinheiro amarram um nó cego nos laços matrimoniais. Trocadilho feroz!


E por último, a ocupação de uma pessoa serve também pra alimentar uma rede de favores no círculo familiar. Que o diga uma garota que conheci enquanto esperávamos uma entrevista de emprego. Tempos atrás, ela ouviu de sua mãe a seguinte crítica quando soube a profissão do namorado.


- Um escritor minha filha? Mas sua prima Carol já é casada com um jornalista. E depois que proveito se pode tirar de um parente nesse ofício? Se fosse pelo menos um dentista, um advogado, até mesmo um fiscal de trânsito tem sua utilidade.


Entre tantos dilemas, essa colega de desemprego tenta superar pelo menos o da serventia. Agora tô saindo com o tipo ideal, cedo ou tarde todos vão precisar de um assim. E em que ele trabalha? É agente funerário.

quinta-feira, agosto 18, 2011

Não foi nada engraçado



São momentos assim que você pensa nas formas mais bárbaras de vingança e o pior do seu caráter vem à tona, aquilo do qual você não se orgulha, mas sabe que existe. São momentos assim que você se sente menos cristiana, à favas com vão se os anéis e ficam-se os dedos, eu quero os meus pertences que comprei com suadas prestações a perder de vista. São momentos assim que você sente a insegurança bater na sua porta não para uma visitinha rápida, mas para uma hospedagem permanente.

É amigos, fomos roubados. Não foi a primeira vez, e talvez não seja a última, mas o espanto e a raiva não se desgastam com a frequência. Quando te subtraem uma coisa que conseguiu ter com o esforço e o sacríficio de tempos, levam embora também uma parte da sua inocência e te deixam com um gosto de "como fui idiota em não fechar aquela janela com concreto armado".Você se nega a crer na miserabilidade de quem praticou o ato, não são desgraçados. São só canalhas.

E depois vendem um portátil a 100 real com dentro bens de valores inestimáveis: as fotos com as recordações mais felizes da sua vida, uma dissertação de mestrado que consumiu quase toda a sua existência para ser escrita e todo o histórico contábil de uma empresa.

Não foi azar, porque ninguém aposta em ganhar ou perder a sua tranquilidade. Essa de querer se responsabilizar pelo ocorrido é um processo de culpabilização muito mal-disfarçado, a ação não começou em você, mas partiu do outro. Foi vil, covarde e muito, muito sem graça.

terça-feira, agosto 16, 2011

O jogo da verdade


Minha paciência é um paciente em estado terminal. Morre, não morre. O pouco dessa virtude que tenho emprego-a integralmente na convivência com o pequeno Taz. Há um temperamento singularmente frenético que não se conhece caso semelhante nas duas árvores genealógicas que lhe deu origem. Caso a cegonha tivesse um serviço de atendimento ao consumidor já teria sido acionado para questionar sobre desvio na entrega de suas encomendas. Talvez neste momento há uma família de lutadores de wrestling se lamentando de onde seu filho de 21 meses herdou tanta mansidão.


O Taz parece ligado a um amplificador de alta potência, e em tudo o que faz usa o limite máximo de sua energia. Até mesmo quando quer se expressar. Outro dia retornou da casa da avó com uma palavra nova que ninguém conseguia identificar.
- Cocótelo, cocótelo.
- Que bonitinho, cocótelo pra você também.
- Cocótelo, cocótelo.
- Agora chega, é hora da papa. Olha a cenourinha.
- Cocótelo, cocótelo.
- Amor, liga pra sua mãe.

Sabíamos que aquela repetição poderia durar ad eternum se não adivinhássemos o seu significado. E não adiantava trapecear, o jogo da verdade só terminava com a resposta certa e uma indecorosa risada. Então...

- Não tinha um nome mais difícil para ela ensinar? Tipo axinomancia.
- Eles estavam no quintal quando apareceu um.
- E aí Taz, o que foi que você viu na casa da vovó hoje?
- Cocótelo, cocótelo.
- Ah, um helicóptero?
- Heheheheheh!!!

sábado, agosto 13, 2011

As dez coisas que mais gosto no meu papai



1 - Quando fazemos coisas escondidas da mamãe como me deixar guiar o carro dentro da garagem.

2 - As suas definições sobre mim: "é como o ponteiro dos segundos, não para nunca."

3 - Os passeios  no Carrosel do parquinho até ele querer vomitar.

4 - As palavras novas que me ensina quando tá nervoso: &@#?#!%.

5 - Quando caçamos pernilongos ele sempre me deixa segurar o mata-mosca.

6 - O seu I-Phone e todas as aplicações que eu posso cancelar.

7 - A sua cara de sono às três da madrugada quando eu  acordo e a mamãe finge que tá dormindo.

8 - O seu espírito empreendedor: "se me pagassem 1,00 real por cada kilo do seu cocô já seríamos milionários".

9 - As torres da Lego que levamos 30 minutos para construir e 3 segundos para destruir.

10 - Mas o que eu mais gosto mesmo é o seu nome, PAPAI, como aquele do céu.


Ass.: Taz, 1 ano e 9 meses 


terça-feira, agosto 09, 2011

A paixão segundo Bobry


Não era muito grande, mas o bastante para atrair a curiosidade de longe, e o nojo de perto. Aconteceu de manhã quando fui molhar as flores do jardim e vi uma coisa estranha no vaso da begônia. Afastei um pouco as folhas e percebi horrozida que era uma lesma. Talvez seja o animal mas dócil do planeta mas na minha imaginação é o mais repugnante. A concha era de cor marrom com uma faixa amarelo-escura em espiral e de dentro dela saía lentamente um corpo esbranquiçado e de consistência muito mole. A cabeça era ainda mais delicada com suas finas anteninhas. Toda aquela fragilidade me causou uma nauséa instântanea.

Quisera eu ser profunda como a Clarice e poder descrever como a visão daquele molusco refletiu o simulacro da minha existência. Quisera eu ter vivido naquele momento uma experiência como a da senhora que mata uma barata no quarto da empregada e descobre a sua outra pessoa, "a incógnita e anônima - e era o que provavelmente me dava a segurança de quem tem sempre na cozinha uma chaleira em fogo baixo: para o que desse e viesse, eu teria a qualquer momento água fervendo.*" Mas não foi bem assim.           

O máximo da inspiraçãp foi correr a procura de algo que a desgrudasse da minha planta. Mas quando voltei ela já não estava mais ali. Será que tinha sido uma alucinação? No mesmo instante ouvi o Taz atrás de mim. "Mamma, mamma". E quando me virei, entendi onde tinha ido parar a lesma. "Mamma, bisso, bisso". O bicho repousava inocentemente na palma da mão do meu filho de 20 meses. Senti o perigo imediamente e gritei.

- NÃOOOOO!

Era tarde demais. Os dedos começaram a se fechar e o pequeno polegar do Taz se enfiou dentro do orifício da concha esmagando o corpúsculo viscoso.

Coitada de mim. Qualquer apreciação que pensava em fazer sobre meu outro "eu", morria ali mesmo.



*Referência ao livro "A paixão segundo G.H", considerado o mais imporante de Clarice Lispector. É a história de como o encontro de uma mulher com uma barata fez desmoronar suas convicções sobre ela mesma.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Manifestação de um jovem artista


Já falei aqui sobre a origem de uma idéia, mas falta dizer como elas podem se tornar pegajosas e obsessivas. Se introducem no meio de uma conversa, se misturam com a sua comida, te acompanham ao banheiro, entram com você no box e te fazem esquecer de lavar as costas. Se escondem debaixo do travesseiro, te molestam para que não durma, e quando você dorme, elas se enfiam nos seus sonhos e se travestem de outras idéias, mas de uma forma muita tosca, como para dizer "até um tonto saberia que sou eu".Quando aparece um tipo assim, não vejo a hora de me ver livre. Então escrevo.

Tudo começou com o desesperro de tirar uma mancha. Não vai demorar muito pra começar a caçoar das minhas declarações. "Mais uma dona-de-casa que usa a internet para expor suas percepções e dúvidas acerca dos afazeres domésticos".  Mas ninguém usa da mesma severidade para criticar aquelas senhoras que aparecem na TV segurando uma caixa e jurando por todos os santos  que o seu sabão em pó é o melhor. A mim, nunca enganaram, vinte anos atrás eu já pensava: "Nossa como elas  se vestem bem para lavar roupa. Não se parecem em nada com minha mãe ou minhas tias".

É o típico discurso de uma frustrada. É verdade. Sinto que falhei duas vezes. A primeira em não conseguir conter o arrebatamento artístico do pequeno Taz quando conheceu a caneta Bic e quis expressar seu dom da pintura justamente na poltrona de couro branco. E a segunda quando me deixei levar pelo otimismo e acreditei que era possível limpar qualquer coisa com os produtos caríssimos da publicidade. Agora sei que nem mesmo ácido muriático dissolve aquela maldita tinta.

E no meio disso tudo qual é o pensamento obsessivo que me ronda: "Esses rabiscos aí são só o começo."

quarta-feira, agosto 03, 2011

Por que alguns restaurantes proibem a entrada de crianças?

Quase nunca faço isso, mas hoje venho dar explicações sobre o post anterior. Realmente a história aconteceu . Depois de meses de ponderação, a família resolveu arriscar e saímos todos os três para jantar fora. Como sempre estávamos receosos,  "Vai ver que ele se comporta mau porque não é acostumado a ir a restaurantes", "Pode ser, vamos tentar". E assim, passei a noite falando com as paredes e o meu marido correndo atrás do pequeno Taz para que ele não causasse danos a si e muito menos aos outros.

O que dá origem a segunda verdade da história, realmente existem restaurantes, assim como hotéis e companhias aéreas que só aceitam clientes acima de 18 anos. São  os chamados "adults only". Talvez no Brasil isso não seja muito comum porque os pais têm mais chance de deixar o filho com um parente, com a babá ou com outra pessoa de confiança para poder sair à noite num programa a dois. Mas na Europa e Estados Unidos não é barato nem fácil encontrar esse alguém disponível. Então acontece de se ver nos restaurantes mais caros da cidade carrinhos de bebês sendo empurrados entres fileiras de mesa com toalhos de linho e arranjos de flores do campo. Na melhor das hipóteses eles dormem, na pior vocês podem imaginar a satisfação dos outros frequentadores.

Então, se em uma viagem internacional você topar com um desses adesivos na porta de entrada saberá o significado:




Alguns são mais diretos e escrevem: "Não se toleram crianças gritando" ou "Nós amamos as crianças, mas as mantenham nas suas mesas".




Sobre o assunto um jornalista italiano escreveu o seguinte : "é um problema velho que nunca sai de moda", e acrescenta que a culpa não é dos bambini que não foram feitos para estarem por horas sentados à mesa, mas sim dos  pais que agem como se estivessem na sua própria casa. Confesso que também pensava dessa forma antes de ser mãe. Acreditava que o comportamento vivaz (bom esse eufemismo) do filho era fruto de genitores mal-educados e me perguntava "Mas por que não acorrentam essa peste no pé da cadeira?". Simplesmente porque podemos ser denunciados ao Conselho Tutelar.

Como a condescendência com a algazarra infantil não é uma qualidade que as pessoas levam na bolsa quando saem para se divertir e não se vê amiúde locais com áreas de playground onde podemos descarregar os filhos, temos duas alterntivas: ou pedir uma pizza ou sair e se benzer dos maus-olhados.

terça-feira, agosto 02, 2011

Crianças, mantenham-se distantes




Até que as paredes são muito simpáticas.
- Você vem sempre aqui?
- Desde pequenininha.
- E esse visual rústico-sofisticado?
- Gostou? Se chama pietre vintage, é o meu novo revestimento.
- Chique no último.

Isso acontece quando um casal resolve menosprezar as leis da segurança pública e leva seu pequeno Taz ao restaurante. Enquanto um vai no encalço da pestinha se desviando dos garçons apavorados e clientes não-paternais com aversão absoluta a menores de 12 anos, o outro janta tendo como companhia um muro.
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