sexta-feira, abril 29, 2011

quinta-feira, abril 28, 2011

Enquanto o princípe não sobe ao trono


- O que a gente tinha combinado?
- Sobre?
- Sobre a caca do Taz.
- Hã... amarelo-mostarda ou marrom-chocolate, ótimo. Mas verde-ervilha, péssimo.  
- Não falo do aspecto.
- Bem, o cheiro é sempre aquele...
- O abestalhado também.
- Você quer brigar?
- Ainda não decidi. Primeiro responde. O que se deve fazer quando a fraldinha do Taz estiver suja?
- Trocá-la imediatamente.
- Resposta e....xata!
- Brigadoooo!
- Agora, vamos para a segunda pergunta. E quem deve trocar a fralda?
- Quem quiser.
- Não, meu amigo. A regra é clara. A bola pertence ao jogador que estiver mais perto de onde ela caiu. Nesse caso, vai que é tua Tafarel!
- Pera aí, agora ela está com você.
- Mas cinco minutos atrás estava com você.
- Cinco minutos atrás ela não tinha caído.
- Sim que tinha caído. Não sente o cheiro de cocô vencido.
- Eu não. Meu nariz está entupido por causa da gripe.
- Não seja fingido.
- É verdade, não vê que tou fungando.
- Olha aqui, vamo abrir agora esse pacote para ver quem tem razão.
...
- Não disse. Seca como um varapau, mas amassada como um hambúrguer. Tempo estimado da aterrisagem: de 10 a 15 minutos atrás. Portanto, a merda é tua.

terça-feira, abril 26, 2011

Não me leve a mal, mas...



Parente não é um ser humano normal com o qual se pode estabelecer uma relação banal e despretensiosa, dessas que quando tiver vontade de mandar a pessoa cagar, você pode satisfazê-la tranquilamente sem o menor pudor ou pesar na consciência, sabendo que sua mãe não virá sofregamente te implorando para pedir desculpas e invocando todos os mandamentos da boa convivência familiar, que inclui em seu quinto ponto o preceito absoluto: Honra a teu pai e a tua mãe, e também a sebosa da sua prima, o bufão do teu cunhado e a mexeriqueira da tua tia e por aí vai.

Como se não bastasse esse encosto que devemos carregar a vida toda e reviver durante os santificados feriados nacionais (percebeu que minha páscoa não foram só ovinhos de chocolate e bacalhoada regada a muito azeite de oliva) quando nos casamos, junto com o marido herdamos a patota do outro lado também. Sorte sua se esse mesmo marido for a ovelha negra da família. Caso contrário, receberá perenemente uma consultoria gratuita e desnecessária sobre como traçar a sua própria biografia. Para os menos atentos, estou sugerindo que dificilmente você escapa do urticante hábito dos parentes de serem enxeridos e palpiteiros. Desconfie sempre, se algum deles se aproxima de você com jeitinho manso e de repente solta a frase “Não me leve a mal, mas...”

Essa é a técnica usada para te desarmar e abrir caminho para a invasão na sua vida privada. Por isso, penso que tolerar a intromissão com sorrisinho de recepcionista e engolir o “vai se fuder” que já estava na portinha da boca querendo sair só tem uma compensação: usar a carga genética desse indivíduo para justificar o comportamento estranho dos filhos. “Puxou a sua família, a minha é que não foi”.

sexta-feira, abril 22, 2011

Cuspindo pra cima

É o tipo de comportamento que você sempre reprovou. E dizia a si mesma “Nunca farei, é coisa de gente mal-educada, ignorante. E eu sou fina, elegante e sincera. Mesmo que tenha vontade e motivos pra me esparramar feito areia ao vento, sei me controlar e nunca vou descer do salto”. Não em público. Mas um belo dia, o cuspe que você jogou para o alto volta e bate no meio da sua testa.

Poder ser durante um passeio no parque, nas compras do supermercado ou na fila do cinema. A conversa começa bem baixinha, discreta. De longe, são duas pessoas civilizadas trocando ideias sobre amenidades. E é esse o propósito, passar despercebidos, sem chamar a atenção dos clientes que atravessam o caminho, ou da garçonete que serve o café. Muito menos de outros casais que permanecem alheios ao mundo, mergulhados no seu aparente idílio matrimonial. Mas não demora muito para o clima esquentar e as coisas começarem a degringolar de vez.

- A culpa é sua.
- É sempre minha a culpa. Você não faz nada de errado.
- Não grita.
- É você quem tá me provocando.
- E você é um desequilibrado.
- Falou a super-bem-resolvida.
- Cala a boca.
- Cala a boca você.

 Então uma vendedora que arrumava a prateleira tediosamente para por um segundo seu serviço e se anima com a futrica. O senhor que fazia palavras-cruzadas na mesa se desconcentra e espia por cima dos óculos. As crianças riem com a mãozinha na boca, aguardando a baixaria dos adultos. E os pais, fingem uma repreensão, mas eles próprios se deliciam com o bafafá.

A intenção de permanecer no salto evapora, e você olha pro povão e só a vergonha lhe impede de gritar: “Que quié? Nunca viram marido e mulher brigarem em público não?” e para aquele casal que despertou do seu sonho de felicidade, a resposta seria ainda mais amarga: “Não gostou do vexame? Pois vocês ainda vão dar um também”.

segunda-feira, abril 18, 2011

Fragmentos da vida a três


(Perdoem-me o blackout da última da semana, aconteceu de tudo um pouco. Depois eu conto em detalhes.)

- Vai acordar o Taz.
- Não vai não.
- Vai sim, ele ta dormindo no nosso quarto.
- E daí? Não tem nada de mais.
 - Se ele ver alguma coisa, ficará traumatizado.
- A desculpa da dor-de-cabeça era melhor.
- Ta bom, ta bom. Mas rapidinho.
Minutos depois.
- Mamanha, papaia!
- Oi amor! Você acordou.
-Mamanha, papaia!
- O que foi? Nós te assustamos?
- Mamanha, papaia!
- Olha aí, eu não te falei. Agora o menino ta em estado de choque.
-Mamanha, papaia!


- Como é que o bodinho faz?
- Méééééééééé´!
- Como é que a vaquinha faz?
- Múúúúúúúúúú!
- Como é que o gatinho faz?
- Miááááááááááu!
- Epa, que gato aveadado é esse?
- Chegou o macho-man!
- A mamãe ta ensinando tudo errado. Escuta o papai. Como é que o leão faz? Grrrrrrrrr-ouuu!
(silêncio)
- Taz, repete com o papai. Como é que o leão faz? Grrrrrrrrr-ouuu!
(silêncio)
- Porque ele não responde?
- Você não ta fazendo a pergunta certa. Taz, imita a mamãe. Como é que o papai faz quando quer ser metido a besta? Grrrrrrrrr-ouuu!


Na segunda viagem mais longa da sua vida, o pequeno Taz deu um show com seus pulmões de aço. Notas agudas do seu pranto ininterrupto alcançaram a freqüência mais alta da escala musical. Ao final, uma passageira se aproximou para comentar o espetáculo. Era uma senhora de idade. Ufa! Pensei, a velhinha vai ser piedosa. Deve ter um netinho que também chora a noite inteira quando não consegue dormir. Quem sabe, dará até um conselho. “Experimenta um chazinho com a raiz do pé-de-alface. É tiro e queda.” Mas não foi bem assim.
- Como o filho de vocês grita. Meus ouvidos estão doendo.
O maridão, afiado como uma navalha, não perdeu tempo e disparou a resposta.
- Não sei quem ele puxou. Minha mulher e eu gritamos só quando fazemos amor. Quer ouvir como é?

domingo, abril 10, 2011

Mamães pernas-de-pau


Me sinto um lixo. Eu sou um lixo. No segundo seguinte ao fato, eu percebi quanto lixo eu ainda poderia ser. E não foram só os gritos de reprovação da avó somados ao choro instantâneo da queda que me fez apreender a minha profunda imprestabilidade. Dessa vez, ao tentar impedir o Taz, pela enésima vez, de engolir uma moedinha, o esforço para reter o objeto tão cobiçado o fez perder o equilíbrio e cair de boca no chão. Com o impacto, o lábio superior se cortou e um fio de sangue escorreu longamente. Em meio a lágrimas que desciam desembestadas pelo rosto, ele estendeu os bracinhos para eu acudi-lo.

O que pensar nessa hora, o que pensariam os outros, o que pensa o Taz? “Mamãe, eu não fiz por mal, só queria brincar um pouco”. “Porque estou sentindo essa dor, foi a senhora quem me machucou?”. Sim, meu filho, fui eu. Eu com minha falta de destreza, meu despreparo, minha impaciência. Sou eu a responsável por todos os tombos quando não chego a tempo para te amparar, pelos seus resfriados quando no calor te faço suar e no frio te deixo descoberto. Respondo também pelas suas birras, quando na minha incompetência, não distingo o que é a sua individualidade e o que é um limite.  

O desabafo não é para angariar votos de compaixão. É para demarcar um território: a das mamães pernas-de-pau. Aquele tipo, que como o jogador de futebol, adora o que faz, mas no fundo, no fundo, sabe que nunca vai fazer gol. É a bola murcha entre as genitoras.  Era tão desengonçada para segurar o bebê que os parentes viviam apavorados com idéia de que isso provocasse um desvio na coluna da criança. E mesmo depois de centenas de trocas de fralda, ainda não consegue baixar o tempo gasto na tarefa. Obter êxito no banho? Sem um saldo de pranto, só duas, máximo três vezes por semana.
                                                                                             
Resta dizer que apesar desses atos desastrosos somos abençoadas com um amor puro e irrestrito. Quando a criaturinha deveria se afastar, é pra você que ela corre pedindo conforto e proteção.

quinta-feira, abril 07, 2011

Sem nojo de ser feliz


Pretendia escrever um post sinistro sobre um tema que dá pano não só pra manga como também colarinho, punho, bolsos e afins. Mas estou deprimida e receio que farei um belo montinho de caca com minhas palavras. Sendo assim, senhores passageiros apertem o nariz. O motivo do meu estado de ânimo? Voltei do dentista com uma péssima notícia. Estou com gengivite, em estágio inicial, mas ainda assim é gengivite. E eu com isso? Dirá um leitor apressadinho. E eu o mandarei cagar porque a minha depressão vem acompanhada de um estresse básico, o que me permite ser um tantinho indelicada também.

A minha tristeza não é por conta da conta do dentista. Seria se não fosse pelo fato de que eu me gabava pela minha excelente higiene bucal enquanto meu marido ficava no limite do mínimo indispensável. Faço minhas consultas regularmente e ele vai ao médico só de caju em caju. Mas quem é sempre premiada com algum mal-estar trivial?  Eu, a mulher que vos escrevo. E daí? Daí, caro leitor, que se continuar a me interromper vou ser obrigada a elevar o meu nível de baixaria.

Prosseguindo, quando você se casa, quer queira quer não (e nesse caso o querer se refere tanto ao casar como à situação seguinte), você recebe da sua sogra o encargo de controlar os hábitos saudáveis do filhinho dela, como cortar as unhas, aparar os pelos do nariz, lavar os cabelos com xampu, usar um desodorante para os pés. E não é uma tarefa prazerosa, do tipo Amor, passa vai, passa um talquinho. É tão excitante!  

Ao contrário. É desgastante, frustrante e irritante e você acaba por recorrer a estratégias pouco românticas do tipo: Hum, que cheiro é esse?  E se ainda assim, ele der uma de desentendido, o jeito é apelar pra linguagem masculina mesmo. Escuta aqui meu irmão, teu bafo de onça ta espantando até as moscas. E esse seu chulé ta mais pra fossa biológica. O que qui é? Descobriram que o uso de anti-séptico tá furando a camada de ozônio é?
           
Depois de descrever esse dever inglório que o casamento nos reserva, desembarcamos aqui. Não fiz uma camisa com meu post, mas dei uma sacudida na minha deprê. Quanto ao montinho de caca, decidam vocês. E tu, leitor atrevido, quietinho da próxima vez, que déficit de paciência se cura abrindo os dentes, escovadinhos, claro.

terça-feira, abril 05, 2011

Alô Doçura! Parte 3



- Oi, liguei pra saber como estão as coisas por aí.
- Que horas são?
- Já ta tarde, mas é que tive um sonho estranho essa noite.
- Três e meia da madrugada!
- Você não ta me escondendo nada não né?
- Do que você ta falando?
- Sei lá, uma amante.
- Por que isso agora?
- Eu estou longe e você sozinho. Vai ver que deu uma vontade...
- Sim, uma vontade de te esganar.
- Você sabe que mulher tem um sexto sentido pra essas coisas.
- O nome disso é paranóia.
- Não é não. Lembra da Ana Maria? Pois é, ela acordou no meio da noite e pensou: “Meu marido tem outra”. E foi dito e feito. Pego de surpresa, o sujeito frouxo e de escassa inteligência, confessou tudo.
- E você achou que o método funcionaria comigo.
- Ô meu amor...
- Eu vou é dormir.
- Responde, você ta me escondendo alguma coisa?
- Boa noite!
- Ta bom, boa noite. Ah, espera, ia me esquecendo, e o meu spatifilus?
- Spat o que?
- Spatifilus. Minha plantinha. Lembra? Eu ti falei que ela era superdelicada. Não pode tomar sol e água um só uma vez por semana.
- Hã...
- Você cuidou dela não foi?
- Tutututututu!

segunda-feira, abril 04, 2011

Taz e Fiuk




Num domingo de sol, mãe e filho passavam uma agradável manhã na companhia de outra família. Com um olho na conversa e outro na piscina, onde miniaturas de gente se divertiam, as mulheres tentavam colocar o papo em dia:

- A psicóloga me ensinou umas técnicas para lidar com a o comportamento da minha filha.
- Me conte tudo. (disse a amiga interessada, mas olhando para os biscoitos de chocolate que deveriam ser a merenda da criançada boiarem na água)
- À noite quando a criança for dormir tem de contar uma historinha diferente pra ela.
- Qual? (perguntou e viu o cachorro Fiuk José espichar a cabeça pra dentro da piscina e roubar os biscoitos)
- Deve ser uma historinha que fale de uma criança que se pareça com ela.
- Sei. Ei, não corram atrás do Fiuk. (gritou ao perceber a intenção da turminha em recuperar o lanche de volta)
- Você fala assim: Tinha um menininho que gostava de bagunçar muito. Ele rasgava os livros, jogava os DVDs no chão, quebrava os brinquedos dos amiguinhos. Era muito, muito travesso, por isso ninguém queria brincar com ele.
- É interessante, mas acho que não posso usar essa técnica. (respondeu no momento em que seu filho retirava o biscoito da boca do cachorro e o comia).
- Sabe o que o Taz responderia se pudesse falar ao ouvir essa história? Mamãe, amanhã a senhora me leva pra brincar com esse menininho?


No mesmo dia, mais tarde, uma garotinha de cinco anos se aproxima:  
- Ô tia dá ele pra mim.
- Quem?
- O Taz!
- Mas por que meu amor?
- Ele é tão fofinho.
- Olha, quando você tiver a minha idade vai ter um também.
- Não vou não.
- Por que?
- Eu não sei fazer igual.

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