quinta-feira, setembro 29, 2011

Taz' s converstion


- Sabe que a mamãe te ama muito?
- Si.
- E não tem nada a dizer em troca?
- Non. 

 

- Ai Taz, me machucou. Pede desculpas.
- Scupa mamma.
- Você vai fazer isso de novo?
- Si.



- Mamma unça, unça!
- Você que fez essa bagunça?
- Si.
- E agora?
- Mamma limpa, limpa.

terça-feira, setembro 27, 2011

Feliz Aniversário


Oito anos se passaram e onde estão as primeiras lembranças desse tempo? Não as encontro. Tenho pra mim que se trata de uma ausência intencional. Elas estão de mal comigo. E com razão. Fiz pouco caso do passado, nunca dispensei aos pequenos momentos o devido respeito e apreço que merecem. A que serve recordar como se costura o cotidiano? 
Alinhavamos a vida dando pontos largos mas fracos à dor e a tristeza, esperando que não durem muito, enquanto amarramos a felicidade com pontos miúdos e fortes para resistir uma eternidade. Já os momentos ordinários jogamos no balaio de retalhos com a vaga intenção de um dia utilizá-los como remendos.
E agora chamo pelas minhas reminiscências mais remotas. Talvez tenham se escondido em um dos buracos do velho sofá que abandonamos no sótão da casa nova. Durante muito tempo ele foi um dos raros ocupantes da sala de estar.  Mesmo sendo de dois lugares sentados, achávamos espaço para nossos corpos se deitarem e algumas vezes se amarem, outras só se pacificarem.
Talvez queiram só me dar um susto pelo meu comportamento displicente. Pode ser que ao destampar uma panela da cozinha eu me depare com uma delas e me surpreenda tanto quanto aquela noite que sem inspiração, sem jeito e sem grana, preparei o mais simples dos jantares. E ri com as contradições. - Boa, muito boa. – Pensei que não gostasse de feijão. Mas da sopa eu gosto.
Talvez sabendo que revivê-las me deixaria melancólica, as lembranças se adiantaram ao meu desejo e saíram furtivamente do meu horizonte. Não carece de serem caridosas comigo, pois não sabem que o desprendimento da generosidade me intimida? É como viver com alguém que não guarda rancor. Custei a não mais me acanhar com o descaramento que se seguia a troca de insultos em uma briga.
Tornem minhas memórias fujonas. Prometo ser mais zelosa e menos ingrata com cada uma. Prometo viver intensamente toda e qualquer banalidade.  E ainda prometo aos meus juramentos uma fidelidade só não maior que ilusão de cumprir uma promessa. Que tal? Não parece uma idéia tão boa quanto a de continuar casada os próximos oito anos?

quinta-feira, setembro 22, 2011

Senta que lá vem mais uma história




Até que enfim o Taz estabeleceu um pequeno ritual para suas fazer necessidades. Começa assim.
- Mamma, mamma. Caca, caca!
- Quer fazer a caca no vaso?
- Si.
Mais rápido que o Rubinho corro pro banheiro, tiro as meias, a calça, a fralda e deposito aquela bundinha de  200 gramas no redutor de assento da privada.
- Mamma, mamma. Afa, afa!
- Quer a girafa pra te fazer companhia?
- Si.
Vou ao quarto, pego a girafinha e trago pra ele. Quando me vê em pé na sua frente, se incomoda e faz mais uma exigência.
- Mamma, mamma. Senta, senta.
- Quer que a mamãe sente no bidê?
-Si.
Então nos vinte segundos seguintes eu espero ansiosa como uma mãe de miss na premiação e ele permanece todo cerimonioso com seu bichinho no colo. No final, desenrola metade dos 40 metros do papel higiênico, limpa a pistolinha do jeito dele, desce do vaso, fecha, sobe na tampa  e dá a descarga.
E a caca?
Fica pra depois, quando já vestiu a fralda, as meias e a calça.

terça-feira, setembro 20, 2011

Sem direito a abatimento


Se às quatro da manhã você acorda achando que já são sete, e passa as três horas seguintes insone, emendando um pensamento sombrio atrás do outro como num cordão de bandeirolas de festa junina, ou é uma criatura abestalhada que se priva do seu descanso em troca de  uma dor-de-cabeça para o dia seguinte, ou um prisioneiro da imaginação, um condenado a vida, com um pé na realidade e o restante do corpo no mundo da fantasia. Te posso conceder um desses atributos: Os dois não, porque aí se igualaria a mim.
Sofro de um pessimismo crônico, e se as coisas não estão bem, ainda tem espaço pra ficar pior. Com medo do breu da madrugada, a autoconfiança se esconde debaixo da cama, e  é difícil resistir à tentação  de viajar na maionese e vê o caldo entornando cada vez mais. Tudo culpa do carteiro. Coitado, seu crime foi entregar uma conta com excesso de zeros. A gordinha acabou não pegando o elevador para o andar dos débitos saldados porque o crédito da família já estava na sua capacidade máxima.
Paguei pra ver, e agora sei que casamento é mesmo a união de duas pessoas em busca de uma (dí)vida comum: a prestação do carro, o plano de saúde, a mensalidade da escola. Dá para tirar o sono da primeira à última noite do mês. Me sinto abatida, mesmo sem ter direito. Esse pertence a tantas outras mulheres que nem o usufruem porque a falta de tempo e  o acúmulo de infortúnios não deixam. Para vencer o derrotismo, só aprendendo a viver com duas camisetas e uma calça jeans. O que o marido acha da proposta?, Ok, se for da Levi's eu topo.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Longe de mim ser...



Não é que eu seja um atleta, é que não me cansaria morrer de velhice.
Não é que eu seja pessimista mas esse negócio de crise levou à falência minhas esperanças.
Não é que eu seja supersticiosa, mas se o horóscopo diz é um período favorável à mudança logo troco os móveis de lugar.
Não é que me faço de desentendida, só  finjo uma autêntica ignorância.
Não é que eu não seja simpátia, é que não acredito em simpatia para arranjar amigo.
Não é que me ache gorda, mas pesa sobre mim o fato de não ser magra. 
Não é que eu seja mão-de-finado, são os preços  que estão pela hora da morte.
Não é que eu não seja paciente, é que sala de espera me deixa doente.
Não é que faço crítica gratuita, são as pessoas que vivem dando defeito.
Não é que o texto me surpreendeu,  é que fiquei sem palavras para terminá-lo.

terça-feira, setembro 13, 2011

Um dia perfeito começa na noite anteior



Com o direito inalienável de não fazer nenhum tipo de serviço doméstico depois das sete da noite. E continua com os sucessivos e felizes acontecimentos.
Uma comida entregue em domicílio com pouco atraso, pouca caloria e pouco cara.
O  filho que às 20:30 te abraça e diz sono mamãe! e adormece sem chás de camomila ou  chantagens emocionais .
A televisão caridosa passando um programa divertido com histórias inteligentes sem apelação  de bundas e peitos.
A parca sensibilidade do vizinho funcionando o suficiente para entender o que é perturbação do sossego alheio.
O seu marido dizendo que  te deseja como da primeira vez mas que se você quiser somente dormir ele vai compreender.
Os lençóis trocados naquele dia e exalando a essência de lavanda que a sua mãezinha  te deu.
O calor lá fora fazendo companhia para os pernilongos e dentro  um rigoroso  frescor de 23,5°.
Você lembrando de ter uma conversinha a sós com Deus para agradecer  todas as bênçãos mesmo Ele achando estranho você não tá pedindo nada.
O sono chegando pontual e você o recebendo de braços abertos, sem ânsias e preocupações pelo amanhã.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Parece piada...



O Taz está dando os números. No bom sentido, mesmo que a expressão dare i numeri  em italiano queira dizer pirar, enlouquecer, ainda não é o caso. Ele só está falando 1, 2, 3, 4... e vai até dez. Aprendeu com a escada daqui de casa. Cada vez que subíamos ou descíamos contávamos os degraus. São 20, mas é a primeira metade que lhe interessa, o resto não conta. Depois passou para o teclado do iphone e graças a uma aplicação já sabe associar o som ao seu respectivo algarismo.
E daí?
Daí que toda mãe é igual quando o assunto é puxar conversa “Você não sabe o que esse menino fez hoje.”, “Isso não é nada, comparado ao que  meu filho faz todo dia”. É um saco sem fundo a bolsa com histórias da série Criança Tem Cada Uma. Pois bem, a minha é relacionada com a novíssima habilidade matemática do Taz. Sendo um ser humano pouco modesto (lembram do papai, papai, filma, filma?) , ele quase não gosta de se aparecer. Assim quando saímos de carro, repete todos os primeiros números das plascas de limite de velocidade.
- Três, três.
- É, três de trinta quilômetros por hora.
- Cinco, cinco.
- É, cinco de cinquenta quilômetros por hora.
E por aí vai, avisando quanto o carro deve correr. Na última viagem que fizemos não foi diferente. O percurso deveria durar umas duas horas debaixo de um sol implacável e um ar condicionado bem ordinário. Já dirigíamos há mais de 30 minutos, quando o número 7 engasgou na goela do Taz como um risco num disco de vinil.
- Sete, sete.
- É, sete de setenta quilômetros por hora.
- Mamãe, mamãe. Sete, sete.
- Mamãe já ouviu.
- Sete, sete, sete, sete.
O loop numérico não parava. Sete, sete, sete. A família começou a se inquietar. Estaria surtando de vez? Não, ele queria só uma coisa: água.
- Sede, sede, sede.

segunda-feira, setembro 05, 2011

O choro sem lágrimas



Pense numa pessoa fazendo yoga e repetindo o mantra aaa uuu mmmm. Agora suma com essa pessoa, coloque o pequeno Taz no meio da história e substitua o mantra por êêêêêêêê. É esse o ritmo sonoro do lamento pungente que afronta o silêncio das nossas madrugadas.  O famigerado choro sem lágrimas. De todas as manhas, a mais safada. Há um efeito devastador no sono de quem ouve, mas quem a pratica não se digna a abrir os olhos.
Acontece na calada da noite, no melhor dos sonhos, quando atendendo ao chamado de Orfeu, o corpo repousa e o cansaço começa a sair de fininho. Então ouve-se um chamado para a vigília, um Despertai-vos! na forma melancólica de seis ês seguidos de uma breve pausa para respirar. Os pais acordam assustados e pensam que não é um comportamento normal. Já o pediatra diz que  o menino não tem nada. ”É somente a sua forma de se expressar. Mas alguma pergunta idiota ou posso chamar o próximo paciente?”

Numa noite de sorte, o pavoroso gemido acaba com um confortante bocejo e um retorno ao sono, em outras se prolonga por torturantes minutos. No quarto ao lado começa a disputa de quem se esquiva melhor de suas obrigações.

-  Vai lá.
 - Eu já fui ontem.
- Mas foi só uma vez.
- E daí?
- E daí que anteontem eu fui duas vezes.
- É mas ontem eu tive de trocar a fralda.
- E daí?
- Daí que perdi 10 minutos nessa tarefa.
- Azar o seu.
- Não importa, é a sua vez.
- Como sou cavalheiro, eu cedo pra você.
- Agora preguiça tem outro nome.

- Êêêêêêêêê...
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