sexta-feira, dezembro 31, 2010

Ô marido dá um tempo

Vou aguentar
Mas não vou me render agora
Vou aguentar
Mas não vou me render agora
Se segura marido
Pra fazer o cafa tem hora
É, você não está vendo
Que na rua tá assim de mulher-melão
Tem sirigaita adoidado
Todas a fim de entregar os peitão
Ô benzinho dá um tempo
Deixa essa preguiça ir embora
E é por isso que eu vou aguentar
Mas não vou me render agora
É, vou aguentar
Mas não vou me render agora
Vou aguentar
Mas não vou me render agora
Se segura marido
Pra fazer o cafa tem hora
É que o baby-doll sexy foi afastado
O pijamão no lugar ficou
E uma muvuca de vacilos sexuais
Deu mole e a libido baixou
Quando a sogra mete o bedelho
O coro come a toda hora
E é por isso que eu vou aguentar
Mas não vou me render agora
É, vou aguentar
Mas não vou me render agora
Vou aguentar
Mas não vou me render agora


e muitos tintins essa noite a todas as minhas leitoras!

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Diálogo da constatação


- Papá!
- O papai foi trabalhar, mas a mamãe tá aqui.
- Papá!
- Amorzinho, a mamãe te esperou noves meses. Enjoou, engordou, teve dores horríveis, sofreu um parto cesáreo...
- Papá!
- Ela te amamentou com o peito sangrando, não dormiu por semanas, chorou com suas cólicas...
- Papá!
- Todos os dias ela te leva pra passear, assiste Telettubies com você, brinca de esconde-esconde e ainda limpa, lava, passa, cozinha...
- Papá!
- Oh filhinho, você podia mostrar um pouquinho de gratidão né?
- Papá!
- Ainda bem que você tem mãe super-bem-resolvida e com a auto-estima lá cima, senão iria achar que você gosta mais dele do que de mim.
- Papá!

terça-feira, dezembro 28, 2010

Saindo do buraco

É uma reação clicheriana. A mocinha se encrespa toda e pra mostrar o tamanho do seu desvario joga o anel na cara do rapaz.

Ela - Não sei onde estava minha cabeça quando me casei.
Ele - Você que insistiu, eu nem queria.
Ela - Ah, é? Pois pode pegar essa merda de aliança e ENGOLIR.

E foi o que ele fez. Literalmente.

Entrevista pro Fantástico.
Ela – Eu não tava acreditando. Fiquei olhando pra ver se ele tinha escondido debaixo da língua.
Ele – Na hora me subiu um nervoso e não pensei duas vezes.

E depois?
Corrida pro pronto-socorro, raio-x e terapia de laxante.

E agora?
Bem... tem uma pessoa cagando e andando pra aparências e uma outra usando uma autêntica aliança de merda.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Um curta de lengalenga

Uma amiga me escreveu contando a enésima briga com o marido. Me vi como diretora do curta-metragem.

Ok. Três, dois, um. Gravando. (Cena 24 – Briga número 23)
- Não aguento mais.
- Meu amor, não fica assim.
- Você me prometeu que ia mudar.
- Mas eu mudei...
- Mudou o caralho!

Corta!
- R., minha estrela absoluta, menos indignação. Você sabe, a mulher tem que parecer ofendida, mas não tanto. Tem de deixar uma brechinha por onde o homem possa entrever um potencial perdão. E você, Marco Romano, mais expressividade meu filho, desse jeito nem a tetéia mais tonta se comove. Vamos fazer de novo. Três, dois, um...

Ah, quantas vezes não vimos ou participamos dessa cena.  O enredo é quase o mesmo. E os atores, fazem o papelão de sempre.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Um poema




Não leio poesias
Tenho medo delas.
São tão simplezinhas
Singelas
E de repente te desarmam
Te desconcertam.

O que isso tem a ver com o blog? Nada, mas o espaço é meu, portanto...

terça-feira, dezembro 21, 2010

Um presente de grego

Minha amiga P. me ligou pedindo uma opinião sobre o presente de natal do marido. Queria dar um relógio. Caríssimo. Estranhei. Em uma semana já tinham ido e voltado às vias de fato umas três vezes. Por que adornar um tosco com um objeto tão luxuoso? Perdoem-me a falta de delicadeza. É Natal, época de se confraternizar, e eu, como sempre, pregando a discórdia, mas o sujeitinho é um imprestável. No último aniversário presenteou P. com uma balança de banheiro, e o que é pior, uma autêntica muamba Made in China. Que miserávão!

Mas a vingança pode ser doce e refinada. Ele vai se afogar no próprio remorso. Bem, cada um com suas convicções. Mas precisava se desfazer de três zerinhos da conta bancária? “Recebi como pagamento de uma dívida de anos”. Agora entendi o plano: tirar uma desforra do inimigo posando de boazinha e sem gastar um tostão. Que espertinha! O problema era fazer passar por um produto novinho em folha. Eu não tenho nada contra artigos usados, (exceto roupas íntimas) e frequento brechós de peito aberto, mas o moçoilo em questão é um bocadinho irascível. Descoberto o engano, iria bufar de raiva como pato donald.

Questão de ordem sobre a interpretação do manual de amor dos personagens de desenhos animados: por que uma patinha tão meiga e bonitinha como a Margarida se envolve com um fiasco averso a qualquer esforço bem-sucedido como esse pato? Definitivamente não é o meu tipo. Mas quem sou eu pra criticar relacionamentos estapafúrdios.

Voltando à minha amiga, depois de uma bela polida, uma caixinha de veludo de gosto duvidoso e uma garantia impressa velozmente, é pronto o presente de grego. Com mais essa história caro leitor, me diga e sinta-se em casa para discordar se quiseres: não pense que o casamento esconda pequenas fraudes cotidianas para sustentar uma já claudicante estabilidade?

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Hoje a noite é bela, juntos eu e ela... (será?)

Alguém pode me dizer por que o Natal é considerada uma época de paz, união e amor? Não conheço um período do ano melhor para arruinar a harmonia de um casal.

Primeira provacação: Ceia de natal.
- O ano passado ceamos com a sua família. Esse ano é com a minha.
-  Aquela sua tia do salpicão de frango vai?
- Vai começar a implicância?
­- Não! Só uma curiosidade, quantos dos seus parentes tiveram diarréia no dia seguinte?

Segunda: Décimo-terceiro.
- Amor, a gente podia usar pra fazer uma viagenzinha.
- Preciso pagar o cartão de crédito.
- Ah coração, você não pagou com a comissão que recebeu?
- Usei pra comprar um GPS Wi Fi pro carro.
- Aquela porcaria que não serve a nada? Tu é uma besta mesmo!

Terceira: Presente pro filho:
-  Um gormit? O que é isso?
- É um guerreiro alienígena.
- Não é melhor um brinquedo que estimule o seu aprendizado, desenvolva sua criatividade, amplie sua inteligência...
- Já fiz o pedido.
- Sem me consultar?
- Se Papai Noel precisasse de consultoria feminina não moraria no Pólo Norte.

Quarta: Enfeites natalícios.
- Que bonita a decoração de Natal do vizinho, né?
- Parece um carro alegórico.
- Todas aquelas luzinhas ao redor da casa.
- Imagine o consumo de energia.
- Olha, tem até uma rena.
- Que veadagem!
- Queria eu ter um marido veado como aquele.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Apresentação - unidos como cães e gatos


Aqui é um espaço pra você que apenas raspou em uma das situações acima. Enfim, uma pessoa normal: está infeliz, insatisfeita, descontente, mas não larga o osso. Fica ali roendo, sem saber o porquê.

Atenção, isto não é escritório de advocacia especializado em divórcio, não fazemos nenhum tipo de propaganda neste sentido. Burocraticamente falando, hoje é tão fácil se separar que nem precisa mais de advogados. Pena que o resto continua tão complicado.

Então, há mil motivos pra sair e só um (ou alguns poucos) pra ficar? Entre. Desabafe, grite, chore. Mas também ria, ria muuuuito porque isso não é o muro das lamentações.  É o paraíso da auto-ironia. O lugar perfeito pra você fugir daquela ilusão da vida a dois. Deixe a máscara cair, ninguém tá vendo.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

O nome do filho

- Você já pensou em um nome?
- Tava pensando no do meu pai.
- Mas seu pai se chama Gérson.
- E daí?
- Daí que eu tou grávida de uma MENINAAAA!!
- A gente pode colocar Gérsona.
- Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!
- Ou Gérsina.
- Por que isso agora?
- Queria homenagear meu pai.
-Mas ele sumiu de casa.
- Não é verdade.
-Abandonou você e sua mãe.
- Ele saiu pra trabalhar...
- É, com a mala cheia de roupa.
- Você tem um nome melhor?
- Sim. Ana Carolina!
- Ah, não! Essa é sapatão!
- Quem é sapatão, meu querido?
- Essa cantora.
- Como você sabe?
- Toda cantora de MPB é sapatão.
- Preconceituoso!
- Egoísta!
- Machista!
- Manipuladora!
- Grosseirão!
- Rancorosa!

A lista de nomes feios é vasta e sortida. Difícil escolher.

Pérolas aos porcos


Corações sensíveis e mentes puritanas, não ultrapassem essa linha.

De madrugada, abraçadinhos, depois de fazer amor:
Ela – Quero passar toda a minha vida ao seu lado.
Ele – É uma ameça?

Uma banal discussão:
Ele – Vai pra puta que pariu!
Ela – Vai você!
Ele – Não, você!
Ela – Você!
Ele – Eu vou, mas depois não reclame.

Os amigs vêm jantar em casa e diante dos convidados.
Ele – O strogonoff da minha mãe é mais gostoso.
Ela – O boquete dela também?

Na loja de roupas femininas, diante da vendedora:
Ele – Quer fazer a madame com meu dinheiro?
Ela – Você não ganha o bastante pra isso.

No banheiro, enquanto ela faz xixi e ele faz a barba.
Ela – Estou grávida.
Ele – É meu?
Ela – Não,  do gerente que você implorou o empréstimo.

No consultório do ginecologista, diante da ultrasom:
Doutor – É um menino.
Ele – Ainda bem, senão precisaria de outro empréstimo...



terça-feira, dezembro 14, 2010

Sete sinais de que seu casamento vai bem, obrigada!




1 - Vocês fazem amor duas vezes por mês. Não acredite que o sexo é o elemento de sustensação de uma relação. Esse discurso é falido e ultrapassado. A boa convivência se baseia na reeducação alimentar, pilates e voluntariado social.

2 - Dificilmente chegam a um consenso sobre  o argumento mais pífio sem antes passar por uma discussão azucrinante. As discussões são saudáveis e levam ao desenvolvimento do senso crítico e fuga do lugar do comum. Não temas, está no caminho certo.

3 - Há uma antipatia mútua e pouco coibida entre ele e seus parentes. Expressar a opinião sobre uma tia inconveniente diante da mesma é demonstração de personalidade sincera e audaciosa. Ninguém quer um bananão do lado.

4 - Excesso de trabalho, horas no computador, insistentes ligações ao celular não são álibis de uma traição. Se o seu marido não encontra tempo para a família é culpa das novas tecnologias que o transformou num escravo do mundo moderno.

5 - Converter-se em uma mulher desleixada. Usar caçolão da vovó, deixar a perna cabeluda (pra não falar de outras partes) e o  cabelo seboso. É um protesto contra a ditadura da beleza.  O homem deveria se orgulhar daquela que transgride a futilidade, supera  a pressão de ser gostosa e e se liberta dos grilhões da vaidade.

6 - Adoção de um programa de tolerância zero aos clichês domésticos como toalha molhada em cima da cama, cabelo no ralo e zapear freneticamente. É um controle de qualidade que se  faz em qualquer empresa seja ela comercial ou matrimonial. Não confundir com falta de paciência.

7 - Ler blogs sobre casamentos naufragados.  Aqui há uma infinidade de razões para justificar essa atitude, menos a de que você está insatisfeita e infeliz. Vejamos algumas:

- É uma maneira de se sentir bem com você mesma ao ver a desgraça alheia.
- Engrossa a fila dos iconoclastas.
- Casar é bom, mas rir dele é melhor ainda.

sábado, dezembro 11, 2010

O mundo é dos que se calam


Essa eu preciso compartilhar com alguém. Antes, um prelúdio. Existem certas perguntas que não querem  calar, mas deveríamos cerrar os dentes para não deixar a assanhada escapar. Minha amiga L. caiu na besteira de abir a boca e soltar a indagação. Depois de fazer amor com seu love num motel caríssimo, estava se sentindo a própria deusa da beleza. Pôs-se no seu melhor ângulo, exibiu as curvas do corpinho que a natureza lhe presentou  e com a voz sensual interrompeu o sono do bofe. "E aí, o que a sua ex tem que eu não tenho? " Oh, oh!!! Meninas, acreditem ou não, ela perguntou. Ele não se deu ao trabalho nem de abrir os olhos. De lá das profundezas da sua preguiça,  respondeu que ela tinha os seios maiores, a pele mais bronzeada e nenhuma estria. Acabou com a pobrezinha da L.

Bem, isso pra dizer que eu entendo a imensa vontadade que temos de conversar, de ouvir uma palavra de apoio, de dividir com alguém nossas incertas. Então, faça isso com sua melhor amiga. Não com seu marido. Não se comporte como a tonta que vos escreve. Por que eu abordei esse tema?  Há dias na vida (às vezes semanas) que acontece  tudo errado.  E um pensamento te persegue: Eu sou um desastre ambulante.  Nem um livro de auto-ajuda serve e nem  mesmo uma olhadinha nas desgraças cotidianas dos telejornais nos lembra de gente em situações piores. É tanta bola na trave que o nível de insegurança atinge valores insuportáveis. É preciso com urgência de uma pessoa para desconstruir essa imagem. E quem seria? Em alguns momentos, ocorre de ser a que estiver mais perto. No caso em questão, o pai do meu  filho. Sentindo o arrependimento pontar lá na esquina da rua eu perguntei:

-  Você acha que eu sou uma boa mãe?
-  Vamos ver.
- Como vamos ver?
- Ainda é cedo pra falar. 

Fiquei muda. Então, vamos esperar vinte anos. Se nesse tempo, ele não quebrar o braço, for o melhor aluno da classe, permanecer longe das más companhias e namorar uma menina legal poderemos dizer que fui uma boa mãe? A indignação tomou o espaço da insegurança. No raciocínio deste indivíduo,  como passo mais tempo com nosso bebê sou a responsável pelo que vai mal. Mas se nosso pequeno Taz começa a caminhar com nove meses e aprende a falar com dez. "Foi o papai que ensinou!"

 Donde se conclui: o mundo é dos que se calam.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Numa noite qualquer, num quarto de um casal, diante do espelho…

- Que stress!

- Que foi amor?

- Nada me serve!

- Por que?

- Olha o tamanho dessa barriga!

- Pra mim tá igual a de ontem. (primeira mentira)

- Eu preciso emagrecer.

- Basta comer menos.

- Como? Se eu tenho fome…

- Ah, experimenta coisas mais ligth.

- Tipo aqueles cereais com iogurt magro?


- É, isso…

- Faz um buraco no meu estômago, às 10:00 comeria um boi!

- Então faz academia ao sair do trabalho.

- Depois de um dia cansativo?

- Anda de bicicleta pela manhã.

- Acordar ainda mais cedo?

- Olha, experimenta aquela ali azul.

- O que você acha?

- Tá ótimo! (segunda mentira) Vamos?

- Que stress!

- O que foi dessa vez?

- Querida, não tenho sapatos que combine com essa calça azul.
- …

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Confissões de uma esposa insone



Sabe, sou meio neurótica pra dormir. Preciso do silêncio total e da escuridão absoluta.  Eu fico deitada, só na espreita pra ouvir qualquer barulhinho. Uma vez, o rumor da água passando pelos canos e enchendo a caixa me deixou alucinada. Levantei e desliguei o registro.  Passeio o dia seguinte a seco. Agora, imagine eu, minha neurose e um marido que ronca. Os três não cabem na mesma cama. Se pelo menos houvesse um intervalo entre ele deitar na cama e adormecer. Mas o seu sono é instantâneo como café solúvel (que paradoxo!). Bastar fechar os olhos e Zzzzzzzzzzzzzzzz... , poucos segundos depois, oincccc, oincccccc!! Não é invenção minha, por mais esdruxulo que pareça,  essa é a onomatopeia do ronco.

Houve um período em que ele passou a dormir na sala, no sofá de dois lugares. O único que tínhamos. Era isso ou a mesa de quatro cadeiras. Ou voltava pra cama e passava a noite inteira à base de cotoveladas e pontapés. É isso mesmo, porque como dizem por aí: quando devo ser boa, sou ótima, mas se tenho de ser má, sou pior ainda. Meu marido não acorda se pedir baixinho,  dá uma mexidinha no braço e soprar o ouvidinho. Tem de ser mais radical. Bendita seja eu que posso recorrer à defesa pessoal. Muitas mulheres sofrem acordadas com essa tortura sonora.

A situação melhorou depois que comprei uma máscara tapa-olhos e protetores auriculares. Recomendo aqueles molinhos, tipo silicone. Encaixam perfeitamente no buraquinho. Da orelha, sem trocadilhos infames! Se você é meio fresca com relação a secreções corporais, nem experimente. Pela manhã, quando tiro aqueles tampões do ouvido. Argh! Que nojeira! Tá bem ensebado!  Nada que um sabãozinho não resolva. E abafa bastante o som.
Por essas e outras que admiro o casal que consegue dormir de conchinha.  Assim abraçadinhos, juntinhos. Até demais pra mim!! Primeiro é uma luta pra tentar se acomodar direitinho.  Encosta pra cá, encaixa a perna aqui, abaixa a cabeça uns 30°. Ufa, achou a posição que agrada aos dois. Trinta segundos depois aquela respiração no pescoço se transforma numa coisa desmedida. O bração começa a pesar na costela. Você vai se sentindo angustiada, oprimida, sufocada... e grita: sai de perto de mim!!

Gostoso mesmo é o travesseiro. Fofinho, se ajusta perfeitamente às minhas medidas. Se tiver com uma fronha 100% algodão e um cheirinho de amaciante. Hum, durmo como uma princesa. A exceção foi a noite passada. Menina, me atacou uma crise de gases.  Nem a feijoada da minha tia tinha sido tão cruel com meu intestino. Mas só foi tomar uma inocente  sopa de cereais . Oh, senhor que suplício eu vivi! Durante a digestão de todas aquelas fibras formou-se uma bolha de ar que se alojou embaixo do meu peito. Aquilo foi crescendo, crescendo. E doendo, doendo. Meia-noite tomei umas gotinhas de flagases  e esperei o resultado.

Não demorou muito e percebi que a flatulência atravessava a barriga em direção a porta de saída. Dava pra sentir que viria um pum violento. Então me preparei toda para desfrutar o fim daquele mal-estar. Respirei fundo, peguei pressão e soltei a bomba. Prrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!! Foi um estrondo, o coberto quase voou e meu marido acordou assustado. O que foi isso? O que foi isso?
 Eu continuei na minha que não sou besta e adormeci aliviada.

terça-feira, dezembro 07, 2010

O bolor que me consolou


Hoje acordei com um anseio irresistível  de tirar o mofo do box do banheiro. Há tempos que aquelas manchinhas nojentas me incomodavam. Na hora do banho, no momento de relax total, água morninha no corpo, espuma cheirosinha escorrendo devagarinho. De repente,  você olha pra baixo e lá estão elas. Impertinentes. Ficam te espiando, zombando de ti. Nunca conseguia removê-las completamente. Depois de cada faxina, elas escapavam sorrateiramente para os ângulos difíceis de serem alcançados pela esponja. Alí, as insolentes se reproduziam de forma avassaladora.

Perturbava-me deveras, mas fui postergando essa empreitada doméstica. Faltava vontade e uma super escovinha. Encontrei-a numa lojinha de utilidades desnecessárias. Era estranha, tortinha. Mas foi um achado. A coragem chegou no domingo de manhã depois de mais uma tentativa de sermos o que não somos. A frustração fez nascer dentro do meu ser o desejo de passar horas no esfregão daquele bolor. Senti que aniquilar a população de fungos me consolaria a alma.

Assim, me enchi de coragem, luvas e detergente potentíssimo.  E como sempre, nesses momentos em que me entrego totalmente a minha profissão de fé, aproveito para fazer as minhas reflexões cotidianas. Sábado à noite, jantamos com um casal de amigos. Agradabilíssimos. Sempre afáveis conosco, mas principalmente entre eles. Por gentileza, pode me passar o sal. Com prazer, querida. Achei lindo!

Amabilidade no meu casamento é como o ar-condicionado que compramos no cartão, só usamos o estritamente necessário.  Pouco antes de dormir cutuquei o maridinho. Propus que deveríamos ser mais delicados um com outro. Ele, com sua sinceridade desconcertante: tudo bem, tesouro. Então, por cortesia, pode me dar a bundinha?

quinta-feira, outubro 07, 2010

Como dobrar uma palmeira

A paz invadiu o meu coração, de repente meu encheu de paz. Cantarolava essa música enquanto fazia uma faxina em casa. Havia já um tempo considerável que as paredes da nossa casa não estremeciam.  Perguntava-me por quê? Meu marido diz que sou quem desperto nele os mais maliciosos instintos, tanto no bom quanto mau sentido. Vejamos esse raciocínio: sendo a premissa A verdadeira (todas as brigas são provocadas por mim), tanto quanto a proposição B (não estamos brigando nesse exato momento), logo podemos concluir que eu estou tranquila. Será?

Digamos que foi feita uma retirada estratégica. Temos uma questão em aberto. Se você remexer na sua relação, também vai encontrar alguma coisa com cheirinho desagradável debaixo dos panos. Mas pra que ficar esmiuçando se tá tudo bem. Meu pai dizia "não escarafunche muito para descobrir sobre seus antepassados, senão vai achar um ladrão de cavalos no meio deles". Então vamos todos sorrir para a foto final. Que família feliz! Senhores e senhoras, peço gentilmente para abaixarem as bandeiras da hipocrisia. Caso desconheçam. O aparente fingimento é uma tática de camuflagem muito usada no mundo animal.


Exemplificando: se ele diz que o discurso está encerrado. Apenas concorde. Bater de frente é ineficaz. Visualize um cabo de guerra. A ponta sendo arrastada será a sua quando o embate for decretado.  Respire fundo e se mimetize na esposa dócil e submissa. Depois, enquanto lava os pratos ou limpa o banheiro planeje uma operação discursiva que o conduzirá ao erro. Nada de falácias, só argumentos dedutivos. Já recorri a metáforas da nossa fauna para ilustrar o casamento. Aqui vai mais uma: pense que as palmeiras nasceram fortes e eretas, mas o vento consegue dobrá-las.

(Ao verdadeiro autor da frase, perdoe-me pela livre adaptação.)

quarta-feira, outubro 06, 2010

Um excêntrico desdém

Devo confessar uma coisa. Tenho um sério distúrbio relacionado a fechamento. Explico: não fecho completamente as tampas, ao mesmo tempo não suporto portas abertas. Parece uma contradição, mas é verdade. É motivo de várias desavenças na minha casa. Deixo a garrafa mal tampada e o primeiro que a pega pela boca, sempre meu marido, deixa cair e esparrama seu conteúdo pelos quatro cantos do universo. Acontece com outros recipientes: creme dental, perfume, potes de mantimentos. Enfim qualquer frasco cuja abertura seja aquele complicado sistema de enroscar. Mas que bobagem é essa que estou escrevendo?

Paciência que já, já atravessamos esse mar de nonsense e chegamos a uma ilha mais elucidativa. Segure firme na minha mão. Para compensar essa deficiência com aberturas, me dá nos nervos portas escancaradas. Isso inclui quartos, armários, guarda-roupas. Não consigo dormir se uma gaveta estiver aberta. Por onde passo, vou trancando tudo. Acho que o som da fechadura apazigua o espírito aflito, aprisiona toda a confusão da alma. É poético, mas meu marido chama de esquisitice. Vive fazendo imprecações contra o que eu própria classifico como excentricidade. Um dia a praga pegou.

Chegamos ao ponto. Uma historinha curta. Atrasados para uma festa. "Onde está o cortador de unha? Ali, atrás do hidratante de uva". Preâmbulo de uma catástrofe. Vi um pote entreaberto escorregando, um líquido pastoso alçar vôo do chão e aterrissar numa pista alvinha. A camisa branca com poás violáceos foi só o começo. Minutos depois, na saída. "Cadê as chaves do carro? No... chaveiro de casa. Na... porta da frente. Pelo lado de... dentro!"  E o tempo fechou. Bem, diante de um homem convicto da sua ira, apenas desdenhe. Em pensamento, claro. "Não tava a fim de ir na festa mesmo".

terça-feira, outubro 05, 2010

Por que acreditamos?

Às vezes repetimos determinado comportamento na vã esperança de que resulte em alguma coisa. Tomamos vitamina C quando já estamos gripados. Continuamos a comprar creme anticelulite mesmo sabendo que ela nunca nos abandonará, e ainda fazemos ou ouvimos promessas do tipo “não mais agirei dessa forma”. A confiança na mudança é limitada, mas existe. Um bocejo, caro leitor? Contenha-se, por favor. Sei que é um argumento trivial, mas é difícil resistir. Pra animar um pouquinho a platéia, cantem comigo Eu não quero dizer, nem quero acreditar que vai ser diferente, que tudo mudou...

Canções inesquecíveis à parte, a situação mais comum para fajutos juramentos num relacionamento é depois de um grande derramamento de lágrimas. A paz precisa ser selada. Faz-se um tratado em que ambas as partes se comprometem a ceder milímetros no seu egoísmo em benefício do amor comum. Ah, se bastasse... Os vícios do homem e as vicissitudes da vida impedem que os acordos sejam cumpridos. Veja o caso de N. O governo é o culpado pela sua infelicidade. O marido torra o salário nas slot machine, depois garante que é a última vez. Mas a ineficiência na repressão aos bingos clandestinos corrompe o rapaz.

Tão desnecessária quanto a promessa é a pergunta que faço ao desabafo da minha amiga "E você acreditou nele?" Conselho antes da aplicação: faça como uma provocaçãozinha inofensiva ou perderá a amizade. Sem muitas delongas sobre o assunto, por si só demasiado enfadonho, podemos sintetizar que se pode tirar proveito até da inutilidade. Olha a sua volta, há alguma coisa na sua casa que não serve a um belo nada, mas você conserva esse objeto supérfluo. E ainda sonha com o dia, a despeito de todas as prerrogativas em contrário, em que ele mudará de posição.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Nunca te falei pra não te ofender


A frase acima pode até vir acompanhada de uma voz melíflua, mas nunca será açucarada o suficiente para esconder a judiação. Quando é introduzida no meio de uma guerra declarada, o efeito não é tão desastroso. É tomada apenas como mais um ataque. O estrago maior acontece num momento inesperado. Tipo uma manhã de domingo, entre o pãozinho com manteiga e o café quentinho. A xícara pára no ar aguardando a continuação da conversa. Ele reflete um pouco. Você se sente desprevenida, desarmada. E repassa todos os seus grandes defeitos. A depender da pausa, dá tempo para rever também as pequenas e secretas falhas, aquelas nunca ditas.

De certo, algum leitor já aplicou essa tática ou foi submetido a um artifício semelhante. É da série “a mão que afaga é a mesma que apedreja”. Um estratagema oportunístico. Basta esperar, e a convivência lhe fará conhecer todo os pontos fracos do inimigo, então é só usar quando convém.  A sabedoria está na sutileza. O primeiro mundo em termos de briga entre marido e mulher, pra não dizer que é uma forma bem civilizada de sadismo. Quando aconteceu com a inocente da minha prima N., ela pensou ter ouvido como continuação do discurso somente um comentário despretensioso sobre sua massa corpórea e respondeu candidamente: "Faço academia só para passar o tempo. Não sou gorda". Pobrecinha!

O deleite em fazer sofrer pisando bem na ferida há diversas causas. Vingança, complexo de inferioridade, perversão sexual. Como disfarçar? A retórica, nesse caso, é essencial. Diga que está apenas expressando sua opinião. É importante preservar a individualidade. O casamento não é uma mordaça para idéias em contrário. Por falar em silêncio, o meu acabou. Depois de um pigarro para disfarçar o embaraço, seguiu o deboche: "não é educado bocejar sem tapar a boca". Como revidar sem parecer insultada ou embaraçada?  Paciência, aguarde a sua vez.

domingo, outubro 03, 2010

Relacionamento alterado: sabor muda de doce para amargo


O PROCON avisa: o idílio tem data para terminar. Quando vencido, o produto é inadequado para consumo e deve ser substituído. Por um átimo, o conselho eclodiu na minha mente. Fazia poucos instantes que tinha conhecido o jovem casal. Eram clientes do meu marido. Por isso, segurei o comentário cínico. Fugazes pensamentos maliciosos, deixo eternizados no blog. Com o anonimato, fica mais difícil indenizar perdas e danos a um leitor.

De sorriso complacente, observava os dois. A troca de afagos, a voz meiga. Todos já passamos por isso. E quanto dura? Meses, poucos anos. Há vários fatores que influenciam o processo de envelhecimento do afeto. No meu caso, possivelmente foi um acidente. Começou com uma viagem. A despedida foi banal, sem lágrimas. Havia uma urgência em partir. Tantas bagagens. Uma preocupação com o mau tempo. Meu mal-estar típico. Hora do dramim. Últimas recomendações. Um breve beijinho e tchau. Partimos. Cada um no seu rumo. O carinho, empurrado pela pressa, caiu e foi atropelado.  Mal curado, nunca mais se recuperou.

Ei, estranhou o parágrafo anterior? Quem vos escreve é a mesma pessoa.  Aproveitei a folga da ironia para passear um pouquinho pelo lirismo. Na verdade, toda essa tapeação é uma tentativa de explicar o meu impaciente comportamento. Talvez o adjetivo mais apropriado seja agreste. Meu marido prefere outros que não vêm ao caso.  A princípio joguei a culpa para os hormônios. Depois percebi que era hora de trocar minha carteira de boa moça. Renovei minhas promessas de praticar somente o bem, a exceção, claro, era continuar escrevendo. Raspei a crosta de bolor que se formava no meu relacionamento. Por baixo, não tinha se deteriorado de todo. Provei. O gosto era bom. Ainda dá pra aproveitar bastante.

sábado, outubro 02, 2010

Fazer (de) conta

Poucos instantes antes de pronunciar o impaciente sim, as mãos se entrelaçam e o padre começa a benção do matrimônio já questionando"Você aceita como seu legítimo esposo..." Nessa hora, o que passa pela cabeça da noiva? "Tá dando pra ver minha barriga?" ou s"erá que meu dente tá sujo de batom?".  Muitas nem se lembram. Eu, sim. Pensava na conta do bufet. Tinha presumido que 20% dos meus convidados não viriam. Era véspera de feriado, poderiam estar na praia. Ao contrário, preferiram uma divertida festa de matrimônio. Tão divertida que chamaram mais amigos.

Minha primeira opção para arcar com as despesas era adotar o costume europeu de receber envelopes com cheques gordinhos em vez de jogo de pratos. Ninguém aceitou. Oh povinho provinciano! A segunda alternativa era pegar o microfone e mudar o discurso: "se alguém aqui presente tem um motivo, por menor que ele seja, para duvidar da proc"edência dos salgadinhos pode sair agora". Faltou coragem, mas sobrou premonição. Intuí que calcular débitos em um momento sacro não traz bom augúrio para a saúde financeira do casal. 

E de fato aconteceu. Meu marido passa longe de ser parcimonioso com as despesas domésticas. Há tanta fixação em gastar nosso suado dinheirinho que desconfio que queira pagar pra ver se cumpro a promessa de lhe ser fiel na pobreza. Com isso, desenvolvi um instinto de sobrevivência para usar sempre que ouço a frase. "Amor, o que você acha d’agente comprar"... Por favor, não me vejam como uma mesquinha sem coração.Tenho pavor de terminar como minha amiga M. Casada há quatro anos, mãe de três filhos, sendo dois gêmeos. Ela trabalha como caixa. Ele, esvazia o caixa. Fazer de conta que contas não existem é a sua especialidade. Por que tolerar um esbanjador? "Serve como babá e empregada,mas sem direitos trabalhista".

sexta-feira, outubro 01, 2010

A sabedoria do acaso



Hoje começa uma nova etapa na minha vida de casada. Vamos reformar a cozinha. Um casal que decide passar por uma experiência semelhante há somente um pensamento: tornar mais cômodo, mais aprazível um lugar da casa. Nenhum dos dois escreveu uma carta ao Senhor, pedindo para passar por uma dura prova a fim de verificar a solidez do seu relacionamento. Mas sobreviver a uma casa em obras não é pra qualquer um. Imagine a sua paciência sendo portada ao altar de sacrifícios, torturada pelo pedreiro, pela sujeira, pela enésima comida semi-pronta do microondas. Como se não bastasse, haverá uma pessoa lhe lembrando a todo momento que foi você quem insistiu pra fazer aquela porcaria de reforma.

Depois de polemizar sobre cor, formato, tamanho, preço, fomos escolher o granito da bancada da pia. Na marmoraria, tivemos de esperar. Uma senhora recém viúva escolhia a lápide do seu defunto. Quanto zelo! Era de enternecer o coração como se dedicava à tarefa de decidir qual pedra era mais bonita. Com a epígrafe foi mais rápida e a meiguice terminou ali.  “Marido infiel, pai ausente, mas felizmente homem de pouco saúde”. Naquele momento, o destino me sorriu.Que belíssimos ensinamentos pode trazer um encontro fortuito.  Só posso dizer que a paz voltou a reinar majestosamente na minha casa até o último revestimento da parede ser colocado.

Útil dizer que não somos supersticiosos, pé de pato, mangalô, três vezes. Se falar sobre o assunto pode não ser auspicioso, pelo menos no dia teremos um problema a menos para resolver. Assim, decidimos qual seria a definição que cada um carregaria pela eternidade. A minha seria espirituosa: “morreu sem ter usado um Manolo Blahnik”. A dele, no seu entender, mais autêntica: “nunca escreveu um blog”.

quarta-feira, setembro 29, 2010

A arte da perserverança

Talvez seja a primeira coisa que faz um jovem casal perceber que a lua-de-mel acabou. Pode começar com a escolha do dvd, ou com a compra da máquina de lavar.  Não é somente discordar da preferência do outro, mas defender obstinadamente os seus princípios, a idéia de que a verdade está com você, e ninguém tasca.  Quando é ela que insiste no seu ponto de vista isso se chama perseverança, mas se é ele que não quer mudar de opinião o defeito atende pelo nome de teimosia. Espero que não tenham pensado que eu fosse ser justa com o lado masculino.

Eu e meu marido brigamos sábado passado  porque ele queria comer na sala, e eu na cozinha. Da mais simples e irrisória vontade de estar num lugar e não no outro passamos para um mar de acusações e injúrias. Pode ser o trabalho, o trânsito, a noite mal dormida, o tempo, o período do mês. Não importa. A ordem dos fatores não altera o resultado. É aquele estado em que você pede encarecidamente para não ser contrariada. Basta um se mostrar firme em suas decisões e outro não ceder que a tormenta está formada.

Se fosse crítica de cinema e tivesse visto aquela cena, teria somente uma palavra para descrever o filme: patético. Felizmente nossa intimidade só é mostrada nesse blog. Não é o que acontece com a família do meu esposo. Toda a roupa suja não é só lavada em público, como também passada, engomada e guardada. Abre parêntese, que prazer poder usar isso de vez em quando, fecha parêntese. Sobre ser perseverante, é notória a história de uma tia que continua casada só pelo simples fato discordar do marido. E para provar que há razão precisa colher a oportunidade certa. Assim, passam-se os anos à espera que ele cometa aquele o ato falho para se encontrar satisfeita e vitoriosa.

O casamento sob o ponto de vista médico

Essa semana fui fazer uma consulta com um cardiologista. Nada de mais. Apenas uma batidinha desafinada com as demais.  Meu marido foi comigo. Se o mundo for divido entre as espécies que vão acompanhadas ao médico e as que vão sozinhas, eu pertenço ao primeiro grupo. Nunca faço um exame sem uma pessoa do lado. Nem mesmo com ginecologista, para isso existem as mães. Quiçá de qual neurose faz parte essa fobia? 

Conheço esse doutor há algum tempo. Demorou anos para passar no vestibular. Se para entrar na faculdade de medicina exige um sacrifício árduo, imagine o que não se faz para se tornar a mulher de um Dê erre (Dr.). É uma competição desumana entre as jogadoras. Terminadas todas as vagas sobram as de amante. A secretaria de meu médico conseguiu só o segundo lugar. Ela e a senhora K. , a vencedora oficial, elevaram a concorrência para um nível internacional. Procuram rivalizar na maquiagem francesa, nas bolsas italianas e nos jeans americanos. Humilhante não é chegar a uma festa e ver uma mulher com um vestido igual ao seu, mas saber que as duas roupas foram pagas com dinheiro proveniente do mesmo bolso. Entre o vexame e o cinismo, salvam-se as aparências.

Você é a próxima. Emersa bruscamente dos meus devaneios, por um momento, duvidei sobre o que de fato a secretária se referia. Pela primeira vez, me sinto contente que meu marido não seja um grande estudioso. Ainda não falei que ele é casado em segundas núpcias. Calma, não passei a perna em ninguém. Era livre, leve e solto quando o conheci. Da sua antiga patroa, nada a declarar. Nesse ponto, é um gentleman. Mesmo quando procuro um mexerico, me responde que nunca fala mal das suas ex. Ufa, posso ficar tranqüila. Sobre o quê, querida? O médico. É muito bom, muito disputado.

segunda-feira, setembro 27, 2010

A afeição e o veneno


Já aconteceu de você se esbofetear perguntando por que não vai embora? Se serve de consolo você há muitos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo. A mãe dos idiotas é uma parideira em constante período fértil. Não se ofenda, por misericórdia, mas é uma das explicações mais usuais para continuar presa a um casamento. Parece que um dos sintomas da idiotia apresentado nos cérebros das esposas é o bloqueio dos membros superiores e inferiores, impedindo de caminhar até a porta de saída.

Ainda prefiro essa resposta a aquela que apresentou minha colega do curso de inglês T. Casada há cinco anos e há seis meses é apaixonada por um companheiro do mesmo curso. E o marido? Sou muito apegada a ele. Juro solenemente que não vou rir. Bem, devo dizer que se afeiçoar a objetos de recordação de um tempo feliz não faz parte da minha personalidade.  Não coleciono lembrancinhas de aniversário, nascimento, batizado, muito menos souvenir da última viagem que não combina nem com a poeira da sala. Já minha cara T. ainda conserva o último mimo da sua bela festa de matrimônio: o noivo.

Mais uma vez peço perdão a algum que se identificou com esse “modo excêntrico” de acumular coisas inúteis. Meu marido guarda até hoje os troféus, quase nada enferrujados, do campeonato de pimbolim. Ele diz que sofro de um distúrbio maníaco de me desfazer de tudo. Um adendo: acho que certos conceitos psíquicos não deveriam estar ao alcance de homens medianos enfurecidos com mulheres superiores. Faz crer que sabem alguma coisa de psicologia. Continuando, outro dia se encrespou comigo porque joguei o inseticida fora. Estava vencido. Você acha que ia fazer mal às baratas? Pelo menos elas terão uma morte mais digna com um veneno novinho em folha.

Mi casa e tu fora de casa


Aviso aos navegantes: Pedimos gentilmente à clientela que é alérgica a clichês de se afastar velozmente desse texto. Decidindo continuar, é por sua conta e risco.


Durante um combate é comum uma dos oponentes recorrer ao famoso “os incomodados que se mudem” para derrubar o adversário.  O golpe é usado principalmente pela parte que é em nítida vantagem patrimonial. Atingido no seu orgulho, o rival demora alguns segundos para se recompor e prosseguir na luta. Nesse ínterim lhe passa pela mente o que acontecerá se fizer da porta da rua a serventia da casa.


Vejamos as opções: voltar para casa dos pais? Os que passam pela experiência de chamar um lar doce lar de meu, dificilmente querem voltar para um lar doce lar teu. Ou pior: a figura opressora masculina também se encontra atravessando a outra porta. Aluguel sozinha? Pode ser, deixando de se alimentar três vezes por semana. Se não tiver filhos há a possibilidade de compartilhar um apartamento com uma amiga. Montar uma república nessa idade­? Que embaraçante!


Diante de uma possível derrota, o lutador deve agir rápido. Saca logo a arma disponível: o novo código de direito civil. Separação total de bens, pensão alimentícia, pacto antenupcial, blá, blá, blá... um pouco de astúcia não faz mal a ninguém. Com isso, a discussão se prolonga até tarde e o corpo-a-corpo atinge outro nível. O importante é desviar a atenção do inimigo do campo de batalha: a nossa casa.
Moral da história: Botar pra fora é um lugar comum e sem graça. Quer pegar essa estrada? O caminho pode não ter volta. Quem avisa amigo é.

sábado, setembro 25, 2010

Trilha sonora da vida a dois


Se você abrir um manual do tipo “como salvar seu casamento”, o primeiro verbo indicado é “ouvir”. Deve ser conjugado diariamente. Concordo em gênero, número e grau. Mas quem são as pessoas verbais? Não sou eu, tu ou ele. São elas: nossas amigas, nossa mãe e até nossa cachorrinha. Os ouvidos delas estão sempre prontos.  Escutam nosso desabafo, encontram os impropérios mais precisos e o que é melhor, nos dão sempre razão. Quantos matrimônios não se mantêm em pé graças a uma orelha de pinico.


Meu marido detesta que eu conte nossos problemas para alguém. O que acha que escrevo? Um blog de poesias? Ele não se abre com ninguém. Minha inquietação era saber como fazia para desanuviar a tensão depois de uma briga. O curioso é que podemos ter o mais tenebroso arranca-rabo durante a noite e ele acorda leve como uma pluma. A solução estava embaixo do meu nariz, ou melhor, do lado dos meus ouvidos. A catarse acontece durante o sono. O estresse é dissipado com a estreita passagem do ar pela faringe. Ou seja, ele ronca. E isso me exaspera. Não é só pelo barulho contínuo. É injusto que depois de um desentendimento, eufemisticamente falando, ele ressone e eu encharque o travesseiro.


Da série de piadas “Acredite se quiser”: antes da nossa primeira noite, eu perguntei, e ele foi sincero. Ronco um pouquinho, mas se te incomodar posso fazer uma cirurgia. Hahahahahaah! Faz-me rir esses votos pré-nupciais.


Antes de fechar o quesito sonoro, ainda tenho outro desconforto. Será que meus ouvidos são sensíveis demais? Tenho ataques de nervos cada vez que ouço um pum estrondoso do meu marido. O que ele responde? Calma, amor, é só ar. Não tem cheiro.

Ser ou não ser serena?



Hoje é meu aniversário.  Fiz trinta e uns. Pausa para reflexão... um, dois, três. Basta! Mais um número e dobro a esquina da depressão. Como evitar pensamentos nefastos nessa época? Implique com o seu marido. Descarregue nele toda a sua frustração por não ter se tornado superpoderosa. Ano passado fiz isso e passei a data em brancos e lisos lençóis. Como não gosto de me repetir, em um momento de lucidez farei uma trégua na guerra. Juro que só por hoje deixarei de lado o sarcasmo e a impaciência.  Por um dia não brigarei.

Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras.

A promessa não dura meia hora. É suficiente ir ao banheiro e ver que a descarga ainda continua quebrada.  Faz uma semana que faço a caca com um balde do lado. Ninguém merece! Quando Deus criou a mulher disse: você suportará todas as dores da maternidade, e você, homem, pra não se sentir inútil consertará todos os buracos da casa. É um pecado que meu marido não leia a bíblia, prefere dormir nos seus momentos de folga.

Assim, quando o seu sono já estiver bastante reparado poderá dizer até breve a sua preguiça e pegar a caixa de ferramenta. Oh, como sou desastrada, não consigo lavar a louça sem fazer barulho! Que pena que acordou! Trimmmmm!! Começou a queda de braço pra decidir quem irrita mais o outro. No meio do bate-boca saco a arma fatal que pesa na consciência: Logo hoje você quer discutir comigo? Não precisei nem chorar.
...
É noite e meu aniversário está quase acabando. Pergunta pertinente: ser ou não ser serena? Depende, na vida tudo é relativo quando se trata de pipi e otras cositas mas.
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