terça-feira, agosto 23, 2011

Por que continuamos desempregadas?


Resolvi propor uma questão que atormenta o meu espírito: por que continuamos desempregadas? Conheço um comboio de gente  que é um verdadeiro talento vagante, carregada de disposição, um artigo de luxo, mas estão ali com a mão no bolso vazio, assobiando a canção ninguém me quer, ninguém me ama. O que está acontecendo com o mundo?


Ou melhor, o que está acontecendo com a seção de classicados. Saca só esse anúncio. O candidato ideal para nossa vaga deve possuir os seguintes requisitos básicos: fluência  em inglês  e espanhol mas disponível para transferir-se a Salto Grande, ser experiente mas ao mesmo tempo jovem, ter grande inciativa pessoal e capacidade  pra trabalhar em grupo, tolerância ao stress mas também criativo e dinâmico.


É o meu perfil, posso até passar por uma garota de 24 anos. Olha, nenhuma ruga!


Delírios à parte, é assombroso participar daquela fatia azul clarinho do bolo de estátística sobre o desemprego do IBGE.  Há um grupinho ali de deprimidos, fracassados, pessimistas e potenciais indolentes que me tenta. Um vacilo, e já estou puxando conversa com eles e pedindo pra fazer parte do clube. A dureza da vida de desocupada também faz pensar em soluções pouco decorosaas. Outro dia me veio a idéia de colocar um vestidinho rosa e chamar um bando de energúmenos para me vaiar.


Mas se refletirmos bem, o desemprego traz algumas vantagens para o ser humano. A gente se  torna mais saudável e menos materialista. Vamos ao shopping, caminhamos quilômetros e não compramos nadinha. Brigada querida, tou dando só uma olhadinha. Sobra mais tempo para ficar com os filhos. Que delícia ser mãe 24 horas por dia! Achou encantadora a minha declaração? Então venha passar uma tarde com o Taz.


Não que eu tenha algo contra a ociosidade, desde que ela seja remunerada. Tanto pra não fugir do tema, num matrimônio de escassa liquidez, o único triângulo bem-vindo é o salarial: um é pouco, dois é bom, três é excelente. Sem querer querendo adotar um tom cínico a nossa conversa, mas trabalho e dinheiro amarram um nó cego nos laços matrimoniais. Trocadilho feroz!


E por último, a ocupação de uma pessoa serve também pra alimentar uma rede de favores no círculo familiar. Que o diga uma garota que conheci enquanto esperávamos uma entrevista de emprego. Tempos atrás, ela ouviu de sua mãe a seguinte crítica quando soube a profissão do namorado.


- Um escritor minha filha? Mas sua prima Carol já é casada com um jornalista. E depois que proveito se pode tirar de um parente nesse ofício? Se fosse pelo menos um dentista, um advogado, até mesmo um fiscal de trânsito tem sua utilidade.


Entre tantos dilemas, essa colega de desemprego tenta superar pelo menos o da serventia. Agora tô saindo com o tipo ideal, cedo ou tarde todos vão precisar de um assim. E em que ele trabalha? É agente funerário.

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