Este blog não é pra você que é super, hiper, mega, ultra feliz com o seu casamento. Não prossiga se você há tudo isso: um trabalho realizador, um marido perfeito, filhos lindos e educados, casa quitada, carro zero na garagem, empregada doméstica, babá e cachorrinho com pedigree.
terça-feira, agosto 09, 2011
A paixão segundo Bobry
Não era muito grande, mas o bastante para atrair a curiosidade de longe, e o nojo de perto. Aconteceu de manhã quando fui molhar as flores do jardim e vi uma coisa estranha no vaso da begônia. Afastei um pouco as folhas e percebi horrozida que era uma lesma. Talvez seja o animal mas dócil do planeta mas na minha imaginação é o mais repugnante. A concha era de cor marrom com uma faixa amarelo-escura em espiral e de dentro dela saía lentamente um corpo esbranquiçado e de consistência muito mole. A cabeça era ainda mais delicada com suas finas anteninhas. Toda aquela fragilidade me causou uma nauséa instântanea.
Quisera eu ser profunda como a Clarice e poder descrever como a visão daquele molusco refletiu o simulacro da minha existência. Quisera eu ter vivido naquele momento uma experiência como a da senhora que mata uma barata no quarto da empregada e descobre a sua outra pessoa, "a incógnita e anônima - e era o que provavelmente me dava a segurança de quem tem sempre na cozinha uma chaleira em fogo baixo: para o que desse e viesse, eu teria a qualquer momento água fervendo.*" Mas não foi bem assim.
O máximo da inspiraçãp foi correr a procura de algo que a desgrudasse da minha planta. Mas quando voltei ela já não estava mais ali. Será que tinha sido uma alucinação? No mesmo instante ouvi o Taz atrás de mim. "Mamma, mamma". E quando me virei, entendi onde tinha ido parar a lesma. "Mamma, bisso, bisso". O bicho repousava inocentemente na palma da mão do meu filho de 20 meses. Senti o perigo imediamente e gritei.
- NÃOOOOO!
Era tarde demais. Os dedos começaram a se fechar e o pequeno polegar do Taz se enfiou dentro do orifício da concha esmagando o corpúsculo viscoso.
Coitada de mim. Qualquer apreciação que pensava em fazer sobre meu outro "eu", morria ali mesmo.
*Referência ao livro "A paixão segundo G.H", considerado o mais imporante de Clarice Lispector. É a história de como o encontro de uma mulher com uma barata fez desmoronar suas convicções sobre ela mesma.
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ai q nojo...rsrsrsrsr.. eu fikaria alucinada sem saber o q fazer..rsrs.. adoroo seu blog! bjx
ResponderExcluirEra o destino rsss de uma forma outra vc ia ter que relar no bichinho!
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