quinta-feira, março 31, 2011

Histórias (su) reais que me pedem pra contar



O casal estava numa dessas lavanderias particulares há alguns minutos. Ela, ajoelhada, enchendo a máquina com as roupas sujas da semana. Ele, em pé, comentando os moderníssimos acessórios do novo carro esportivo da Ford. Quando de repente um grito.
- Não acredito!
- O que?
-Como você pode. A gente economizando para comprarmos a nossa casa quando nos casarmos e você faz isso.
- O que foi que eu fiz?
- Minha flor, já falei pra lavar suas meias sujas na pia do banheiro.

Comentário da protagonista da história:
- Passei cinco anos na Universidade, três anos estudando pra concurso, dois anos como defensora pública e estou há dez anos suportando um filho da puta.



Eles estão casados há mais de vinte anos. E toda manhã, com pequenas variações, acontece a mesma coisa.

- Porra!
- O que foi marido?
- Minha camisa ta suja.
           
Minutos depois.
- Desgraça!
- O que foi marido?
- Café quente dos inferno!

Ao sair de casa e ver o pneu do carro furado:
- Diabo! Cão! Capeta!
(silêncio)
- Ô mulher, ta surda? Te chamei três vezes.


Na emergência do hospital, o médico atende a paciente com delicadeza enquanto dá o diagnóstico para o esposo.

- Ela sofreu uma pequena pancada na cabeça e há uma luxação na coxa. Por pouco não pegava na virilha.
- Minha queda da bicicleta foi feia mesmo.
-Viu que até exercício demais pode fazer mal?

O esposo ri do médico espirituoso, mas ao ficar a sós com a mulher.
- Agora chupada de negão atende pelo nome de bicicleta.                                        

quarta-feira, março 30, 2011

Diálogo de dois dementes




- E o que foi que eu disse?
- Não vou dizer.
- Por que?
- Por que você sabe o que disse.
- Se estou perguntando é porque eu não sei.
- Não é mesmo.
- Então o que é?
- Você quer que eu diga o que foi que você disse só pra dizer “Eu não disse isso”.
- É você quem ta dizendo...
-Daí eu vou dizer “Disse sim.”
- Isso você diz mesmo.
- Aí fica o dito pelo não dito.
- Mas quando você me perguntou o que foi que você tinha dito eu disse.
- E eu não neguei o que eu disse.
- E quem disse que eu vou negar?
- Você sempre desdiz o que diz.
- Pois eu digo que você é louca!
- O que foi que você disse?
- É o que andam dizendo por aí.
- Eu sou louca mas escuto muito bem.
- E o que foi que você escutou?
- Não vou dizer.




Numa briga de casal tem sempre um que fala o que não devia dizer.

segunda-feira, março 28, 2011

Coisas que o manual da mamãe não diz


- Quando você vai poder dormir novamente.
- Que a parte mais bonita da gravidez são os peitões.
- Quem nasceu primeiro: o filho ou a culpa.
- O que você chama de preocupação, o pediatra chama de histerismo.
- Nem todo o pilates do mundo trará de volta sua cinturinha de pilão.
- Onde ta escrito cólica de bebê, leia-se pior momento da sua vida.
- O que é útil na loja, pode ser inútil no guarda-roupa.
- “Quantos quilos ele pesa?” é uma medida de comparação.
- Sono de bebê ainda é um código indecifrável.
- Transgressão é gritar com o neto na frente da avó. (mesmo que ela tenha feito isso com os próprios filhos)
- Maturidade para ser pai é saber regredir com o nascimento do filho.
- Mais de 3.000 é a quantidade de cocôs de diferentes formas, cores e cheiros que passará pela sua mão.
- Primeiro vômito: muita calma nessa hora.
- Febre, amanhã ou depois seu nenê vai sentir na pele essa emoção.
- Dor nas suas costas: ossos do ofício.
- Sobre o choro: no primeiro trimestre você chora junto com o bebê. No segundo, você rir pra ele parar de chorar. No terceiro, você o faz chorar para ele não se ferir. No quarto você deixa ele chorando porque aí já é manha.
- E por último: Maternidade não aceita devolução.

sexta-feira, março 25, 2011

Quanto pra frente você é?

Ok, depois de ler muito sobre o assunto e ouvir a opinião das minhas mais chegadas, vou contar para vocês a minha experiência. Mas antes uma observação que talvez justifique a minha posição. Eu disse talvez, nada impede que eu supere as teorias-avós que bebi toda a minha infância e mude meus conceitos. Sou uma menina do interior (e ainda me considero nessa condição juvenil apesar dos fios prateados que brotam como chuchu na cerca), e fui criada à moda antiga com os papéis masculinos e femininos bem definidos.

- Filha, fecha as pernas.
- Ah mãe...
-Moça não senta dessa maneira escanchelada.
- Mas eu sou tenho 10 anos.

Não importa. Homem é homem, mulher é mulher, e cachorro é cachorro. Não que aos meninos da minha família fosse dada toda a liberdade do mundo. A meus irmãos nunca foi permitido deixar os cabelos crescerem ou usar brincos na orelha, que dirá fazer a sobrancelha. Tenho a mente aberta mas a primeira vez que me vi em uma situação desse tipo confesso que senti uma certa confusão.

- Cruz credo!! O que é isso?
- Isso o quê?
- Isso aí no seu peito?
- Não tem nada aqui.
- É esse o problema. Não tem nada. Tá lisinho como bunda de bebê. Cadê os pelos?
- Eu tirei.
- Como assim?
- Ontem na esteticista. Ela usou uma cera de mel de abelhas da Califórnia que hidrata e cicatriza a ...
- Pera aí. Tu é gay é?
- Ô ignorância! E eu que pensei que você fosse uma mulher moderna, pra frente.

E sou mesmo. Mas a ausência daqueles tufos em que minha mão se enroscava traçando anéis negros nos dedos me chocou. Mil questões passava pela minha cabeça.  Por que alguém que estava longe de ter o peitoral de Malvino Salvador vai querer se depilar? Só porque é mais higiênico e confortável. Sei... vou fingir que acredito. E a chatice de esperar os pelos crescerem combina com a personalidade testosterônica? Assim que os pontinhos pretos começarem a encravar e a coçar ele vai resistir a tentação de passar a gilette?

Vai ver que sou uma antiquada mesmo. E pra não dizer que tava de má vontade com essa tendência, tentei me acostumar a mais uma estranheza do mundo. Passado o susto, a sensação do toque era agradável. Só não esperava o que viria a seguir:

- Ave Maria!! Aqui embaixo também.
- Gostou? Eu fiz pensando na sua comodidade.

terça-feira, março 22, 2011

De quando perdi a razão e não mais a encontrei - final





No segundo dia, minha gastrite apareceu e piorou meu enjôo. Passar um weekend com all incluse (hotel, café da manhã, almoço, jantar) significava também horas e horas de tediosas palestras sobre a resistência do porcelanato retificado. Pra completar a minha sensação de mal-estar, durante todas as refeições era servida uma pasta de alho (o tal de aioli) que os mortos-de-fome da excursão lambuzavam em tudo que é petisco que aparecia:

- Já experimentou com o chouriço?
- Não, não.
- E com esses ovinhos de codorna?
- Depois eu como.
- Não esquece de provar no salmão cru. É uma delícia!

O estômago se contorcia todo. Sentia que o vômito estava bem próximo e eu sentada no meio da mesa enorme e de costas pra parede. Com tanta licencinha pra pedir, não chegaria em tempo ao banheiro. Me segurei e mantive a pose, mas mentalmente amaldiçoei tudo e todos: que viagem fudida do cacete, bosta de molho de aioli, o que eu tô fazendo nessa budega? (Perdoem-me as palavras chulas, o despautério é uma das demonstrações da insanidade que tomava conta de mim.)

Agora me pergunte se pela misericórdia divina fomos à praia curtir a brisa do mar e caminhar na areia com os pés descalços? É obvio que o diretor de eventos fez questão de ocupar todos os nossos segundos com visitas aos vários setores da quilométrica fábrica. E ainda nos mandou um motorista de microônibus que era um ser de outro planeta. Enquanto dirigia, usava três celulares e não parava de cantar If I Were a Boy de Beyoncé. So faltava os passageiros responderem I think I could understand, how it feels to love a girl . Eu me sentia presa num filme de David Lynch.

No meio da tarde comecei a salivar como um cachorro-louco, dias depois descobri que isso se chama sialorréia. Mas naquele momento me fez acreditar que definitivamente tinha perdido o controle sobre meu corpo. A sensação estranha e a sucessão de situações bizarras aliada aos comprimidos de dramin que tomei para controlar a náusea tolheram a minha percepção da realidade. Mais um pouco, e eu endoidecia de vez. Me vi zanzando com aquele camisolão horroroso gritando no hospício Esconde, esconde! Eles estão chegando!

- Senhora?
- Hum...
- Senhora?

Já começou. Estou ouvindo vozes. Surtei mesmo. Me internem!

- Senhora, por favor acorde.
- O que foi?
- A senhora adormeceu durante o trajeto. O seu marido pediu para não acordá-la, mas terminou o meu turno...

Era o motorista e eu estava sonhando. Que alívio o dia tinha acabado! Era uma afobação à toa. Mas precisava me acalmar, antes de voltar pro hotel passei na farmácia. Não quiserem me vender um antisiolítico sem receita, então comprei um teste de gravidez e descobri o que eu tinha.

"A loucura é hereditária, a gente herda dos filhos." (Léa Waider)

domingo, março 20, 2011

De quando perdi a razão e não mais a encontrei


Foi mais ou menos nesse período, dois anos atrás, que tive um revertério e faltou pouco para pirar de vez o cabeção.Vivi uma das situações mais surreais da minha vida que botou pra correr meu minguado juízo. Tudo começou quando meu marido foi convidado para conhecer uma importantíssima fábrica de um de seus fornecedores em um delicioso balneário turístico. Parecia uma oportunidade fantástica para passarmos um fim-de-semana às custas de um dos mais ricos industriais do país.

- Só tem um detalhe.
- Qual?
- Você deve fingir que é uma arquiteta.
- Eu? ? Mas não entendo nada de plantas.
- É pegar ou largar.
- E se me perguntarem alguma coisa?
- Invente. Não conheço ninguém com imaginação tão fértil como a sua.

Isso já era mais do que suficiente pra me deixar apreensiva. Acordamos cedo pra pegar o avião e já pressentia que ia dar merda aquele passeio. Minha cabeça latejava e uma náusea tomava conta do meu corpo. Tomei o primeiro de uma fila analgésicos que me deixaram grogue por quase todo o dia. Mesmo assim devia passar-me por uma arquiteta convincente. A princípio não parecia difícil. Era só ficar olhando para o teto, alisando as paredes, e se fixar no formato do piso com cara de quem descobriu a fórmula das havaianas.

Mas entre os visitantes que participavam do tour pelas instalações da fábrica começou a rolar um buxixo de que havia um espião da concorrência entre eles. Alguém tinha se infiltrado no grupo para descobrir não sei o quê do modo de produção. Meu complexo de perseguição avisou logo que suspeitavam de mim. Ai, ai, daqui a pouco eles vão me escorraçar daqui com um pé na bunda e uma conta de muitos zerinhos pra pagar.
Então alguém me pergunta:

- O que você achou da construção do edifício?
-Hã.. conseguiu captar muito bem a luz vinda do leste.
- Você quis dizer oeste.
- Ah, sim. Sempre me confundo com os pontos cardeais.

Quase me deu um siricutico de tanto nervoso. E nessas horas cadê o traste do meu marido? Eu prestes a ser expulsa, humilhada pela multidão e ele desaparece. Movida pelo desespero comecei a falar como uma desembestada e descobri que metade das pessoas que estavam ali também tinha pegado carona na boca-livre. Ô povinho miserável! Por sorte a acusação caiu sobre um rapaz que se mantinha distante do grupo, quase alheio às explicações da nossa incansável cicerone.

quinta-feira, março 17, 2011

Que vexame!

- Violeta deslumbrante.
- Como?

Há alguns minutos que estava parada na fila só para pagar uma mísera conta de água. Do outro lado da rua, numa pracinha minúscula minha cunhada tentava desesperadamente conter a explosão de energia do Taz. A cada escapada do pequeno, o ar fugia dos meus pulmões, imaginando que a tia não conseguiria impedi-lo de saltar para o meio dos carros.  Ai que demora! Por que a Lei da Prioridade para gestantes e lactantes não se estende a mães de criaturinhas arteiras? Foi mergulhada nesses pensamentos que o estranho me interrompeu.

- O seu esmalte. A cor não é violeta?
- Ah, sim.

Geralmente não entabulo conversas só com o intuito de passar o tempo. Durante viagens, os meus vizinhos de poltrona nunca saberão o meu nome ou estado civil. Comentários de taxistas sobre a meteorologia são respondidos rapidamente. E nos consultórios médicos-odontológicos me concentro nas revistas amassadas para não encarar meus colegas de espera. É rabugento da minha parte, eu sei. Mas dessa vez, o bonitão atrás de mim despertou minha atenção.

Disfarçadamente olhei para as minhas mãos. Tinha acabado de aderir às cores vibrantes. Escolhi o violeta porque combinava com um par de óculos (que fashion!!). Na ponta da unha, a manicure havia desenhado pequenas florzinhas de miolinhos amarelos e pétalas brancas, da mesma cor eram os pontinhos miudinhos que contornavam todo o canto até sumirem. Quanta futilidade reunida em dois centímetros!  

Para reparar nesse detalhe, ou é gay ou surgiram novas estratégias para xavecar desde que me retirei do mercado. Pensei comigo, enquanto percebia que daquela estreita distância em que o estranho se encontrava também dava pra perceber que minhas pernas estavam com a depilação atrasada. Lastimei por não ter usado um jeans. Aquela calça de stretch ia deixar o meu bumbum tinindo. E o meu cabelo? A chuva deve ter feito dele um balaio de gatos.

- Me perdoe a indiscrição, mas posso te pedir uma coisa?

Ainda por cima educado. Vixe Maria! No meu tempo não existia esse tipo de homem. E se ele quiser meu telefone? Não, acho que agora eles pedem é o MSN. Qual era meu nickname? Mas será que ele viu a aliança? É claro, pra enxergar até a cor da minha unha. É muito ousado e seguro de si. Vai ser charmoso assim lá em casa. Hellooooo!! Não viaja, tente manter a compostura.

- Depende, se estiver ao meu alcance.
- Sou representante de cosméticos. Queria que a senhora distribuísse esses folhetos entre suas amigas, pode ser? Vocês vão adorar a nova coleção de esmaltes!

terça-feira, março 15, 2011

Novas aventuras do pequeno Taz




Durante o dia...
- Mãe, sabe como organizo os mantimentos na minha cozinha?
- Não, filha!
- Guardo na parte alta dos armários.
- Ah, é?
- É sim. Arroz, feijão, farinha, macarrão. A senhora deveria fazer o mesmo.
- Mas eu sou baixinha.
- Usa uma das cadeiras.
- Minhas varizes vão me matar.
- E as meias de compressão?
- Com esse calor...
- É pro seu bem.
- Por que você ta insistindo tanto?
- O Taz ta brincando de padeiro lá na sua dispensa...  

No início da noite
- Existe algum supermercado aberto?
- A essa hora não.
- Loja de conveniência?
- O que é isso?
- Correspondência de algum parente indesejado?
- Ninguém me escreve mais cartas.
- Algum jornal velho?
- Dei tudo pro catador de papel.
- Então reze pra ninguém ter dor-de-barriga até amanhã.
- Por que?
- O Taz acabou de afogar na banheira todos os rolos de papel higiênico.

De madrugada
- Mamãeee, mamãeee!
- O que foi Taz?
- Aia, aia!
- O cachorro ta dormindo.
- Tato, tato!
-O titio foi pra casa dele.
-Áquina, áquina!
- O carro ta na garagem.
- Fô, fô!
- O vovô não pode brincar com você agora.
- Deda, Deda!
- Quem é Deda?
-Deda, Deda! Zzzzzzzzzzzz...
-O que você ta me escondendo, filho?
- Zzzzzzzzzz...

segunda-feira, março 14, 2011

E se são caquis?


A resposta a essa pergunta faz estourar de rir os pequenos Taz que já entendem os significados de meleca, pum e caca. Basta uma encenação com a voz de desenho animado, os olhos girando pra esquerda e direita, a boca faz que responde, mas espera um pouco mais, e as carinhas sapecas reluzem de tanta expectativa, só então sai o grito: CAGARÃO!!!  Aí o riso corre solto como um riacho, banhando as pedras duras que ficam no peito esquerdo dos adultos.

A terceira sentença do adágio se são rosas, florescerão e se são espinhos, picarão é uma convite para ver a vida de forma mais leve. A alternativa foi acrescentada por um desses engraçadinhos que a gente encontra no fundão da sala do colégio, nas festas de fim de ano com os parentes ou na pausa do café no trabalho. Ele se acha tão espirituoso quanto um apresentador do Oscar, enquanto nós não achamos a menor graça, mas esboçamos um daqueles sorrisos não-quero-passar-por-antipático.

Mas ele não é o personagem de hoje. Minha velha conhecida retorna pra continuar a sua história. Um detalhe importante: a noite em que tudo odorava de normalidade e eles foram dormir sem fazer amor era véspera do dia das mães. Ela havia comprado na promoção um jogo de malas. E quando a porta do apartamento se fechou, o presente foi empurrado pro elevador e arrastado pelas ruas da cidade, fazendo pequenas rachaduras no papel colorido que o envolvia.

Uma dentro da outra, as malas guardavam, um dentro do outro, os sentimentos da moça: dor da rejeição, medo por se ver sozinha aquela hora da madrugada, vergonha da cena ridícula. Nenhum táxi, nenhum ônibus. Só viu espinhos que a machucaram pelos meses seguintes. Anos se passaram até que as flores começaram a brotar. No início ela nem percebeu, até ser tocada por um botão. Então seus olhos se encheram de rosas coloridas, perfumadas e macias. Com o tempo algumas murcharam, outras floresceram.

E o caqui? É um tomate transexual com gosto de nada misturado com coisa nenhuma. Dentre as inúmeras propriedades e virtudes deste fruto vindo do oriente, destacam-se as piadas para crianças e os posts para leitoras curiosas.


sábado, março 12, 2011

Não que eu seja uma fingida


Dia desses recebi de um ex do passado-mais-que-imperfeito um pedido pra ser adicionado nessas redes sociais. Aceito ou não aceito? O que será que o boçal tá querendo? Só por hoje vou fazer essa caridade. No chat, as preliminares são carregadas de lugares-comuns: Quanto tempo! Você não mudou nada. Engordei um pouco. Não parece, tá supermagro!  Então  balofo solta essa pergunta.

- E aí, feliz com a vida de casada?

Diabos!! Por que fui aceitar esse seboso? Vejamos as opções de respostas:

- Não entendi. Pode repetir por favor?
- Quem você pensa que é? Nos trinta minutos que tenho no meio tarde para relaxar vem me perturbar com questões fora de contexto. Vai te catar.
- Não. Tava esperando você aparecer pra me salvar.
- Claro. Minha casa é linda.Tenho uma máquina de lavar-louças ótima.

Nenhuma das alternativas anteriores. Se eu demorar mais um pouco, ele vai achar que sou uma casada-infeliz-arrependida-do-que-fez. Tenho pouquíssimos milionésimos de segundos. Pense rápido. Basta dizer sim. Mas ele não vai ficar acreditar. Devo ser convincente logo de cara. Ai Cristo, que dilema. Preciso ganhar tempo.

- BOBRYYYYYYYYYYYYYY!!!!! (o doce chamado do maridofe)

- O celular tá tocando. Já volto.

- Oi?
- Cadê a porcaria da minha escova de dente ?
-Tá no armário.
- Não tem merda nenhuma ali.
- Já olhou na nécessaire?
- E que porra é essa de nécessaire?
...

- Voltei, era o meu marido no telefone. Tão meigo! Queria saber onde quero jantar esta noite. O que foi que você perguntou mesmo?

quinta-feira, março 10, 2011

Se são rosas...

Gesto impensado, reação inesperada. Um tema que recorda sempre uma passagem da nossa vida. Às vezes de final feliz, outras nem tanto. São atitudes que têm fome de se manifestar e não esperam o crivo do nosso autocontrole . Furam a fila e agem de maneira espontânea. Alguns dirão que lá dentro, escondido debaixo de camadas de repressão, um desejo do nosso inconsciente deu um empurrãozinho pra este tipo de comportamento.  Os mais místicos endossarão a tese de que o universo conjurou pra que isso acontecesse e ser nenhum poderia impedir esse fato.

Já se passarão anos desde que uma conhecida minha teve uma dessas reações. Tinha um relacionamento que caminhava para a estabilidade. Se tivesse de usar uma metáfora bíblica para descrever a ligação entre os dois diria que ela era o cordeirinho e ele o pastor que conduzia a relação em todas as ocasiões: da hora ir para a cama até quem poderiam frequentar. Ela não se lamentava, era abnegada demais para esboçar qualquer contrariedade. Por isso o seu próprio espanto com o que fez.

Numa noite em que tudo odorava de normalidade, do jantar com lasanha semi-pronta ao filme no vídeo-cassete (lembram dele?), o casal foi se deitar sem fazer amor. Lá pelas tantas, sem conseguir dormir a moça se levantou e saiu. Já estava esperando o elevador quando o rapaz abriu a porta do apartamento e perguntou o que ela estava fazendo. Estou indo embora. Por um instante, pensou que ele iria dizer pra não ser boba e entrar, mas tudo o que fez foi voltar pra cama enquanto ouvia-se o sinal do elevador parando no seu andar.

A roda do destino girou em outra direção naquele momento.

Refleti muito antes de contar essa história e não escreverei nenhuma linha sobre o que aconteceu em seguida. Sem insinuar um pretensioso mistério, acredito que as palavras germinam na alma dos leitores, e assim me limito a dizer que se são rosas, florescerão.

segunda-feira, março 07, 2011

♪Ala-la-ô-ô-ô-ô, mas que dor ô-ô-ô ♪



Se meus anos dourados voltassem, nesse carnaval realizaria um antigo sonho: me vestir de diaba. Diferente de outros tempos, o tesão de hoje não é pela fantasia sexy e cores quentes que fazem despertar a libido masculina. Mas pelo que a figura representa: a ruindade. Quem nunca sentiu um desejo irreprimível de ser má, deixar de lado as boas intenções, a compreensão, o perdão e castigar mesmo?
  
Poucos, quase ninguém. A reação é  a de torcer o nariz à minha pergunta. Se espicho os olhos consigo até ver aquele beicinho caricato de Lilian Wite Fibe. É uma dobrinha quase imperceptível no canto esquerdo do lábio inferior, mas carregado de uma desmesurada crítica. Conheço a condenação aos que confessam os seus mais íntimos pecados. Mas estamos no período de liberar a franga, e eu vou soltar os meus bichos.

A minha vontade de ser perversa se mistura com a sensação de que o alvo das minhas maldades faz por merecer. Imagine um desses tormentos musicais se repetindo a exaustão na sua cabeça: ♪ pica na latinha, pica na latinha, pica na latinha . A exasperação resultante não chega nem perto da loucura provocada pela repercussão dia após a dia da marchinha:  Tá torta a franjinha do Taz! Tá torta a franjinha do Taz! Tá torta a .... CHEGAAA!!! Não agüento mais. Vai fazer esse ziriguindum na casa da @#!!&”Ωψ¥£®.

É uma semana que escuto esse bordão e uma semana que me controlo. Mas agora a sensatez tirou folga e só volta na quarta-feira de cinzas, em seu lugar ficou um monstro impiedoso. E o primeiro que fizer uma observação sobre o corte de cabelo do meu irrequieto filho vai levar um sopapo no pé do ouvido pra sair cantando ♪ala-la-ô-ô-ô-ô, mas que dor  ô-ô-ô ♪.

quinta-feira, março 03, 2011

Nada a ver


- Mas por quê?
- Você não gosta?
- Não é que não gosto. É estranho.
- O que tem demais?
- Geralmente as pessoas usam outras coisas mais convencionais.
- Eu não sou convencional. E logo você se acostuma.
- Sei não… como eu vou explicar quando me perguntarem.
- Diz que foi uma idéia minha.
- Elas vão rir.
- E daí?
- E daí que não quero ser motivo de chacota.
- Você quer que eu mude?
- Talvez…
- Foi algo tão espontâneo…
- Verdade?
- Foi, assim que te conheci pensei nisso…
- Poxa, que romântico!
- E depois as outras formas são pouco originais e absurdas.
- Por que?
- Por que fazem alusão a animais, a coisas de comer…
- Mas eu pensei que a sua intenção era a de me comer.
- Não. Tem a ver com um fator determinante da sua personalidade.
- Como assim?
- Você fala muitas aBOBRInhas. Daí o seu apelido.

terça-feira, março 01, 2011

Quando eles não são bem-vindos


Depois de quase 30 anos de matrimônio, meus tios dão mostras de que vão se separar. Ele não a trocou por um modelo mais novo e turbinado e ela não se encheu da personalidade pouco complacente dele. Os dois enfrentaram a inflação, passaram pelo Plano Cruzado, a perda da caderneta de poupança, mas na paz da estabilidade do real o casamento começou a rachar. Um outro casal é a razão de tanta discórdia. Um macho e uma fêmea da família dos psitacídeos, mais conhecida como maritacas, estão levando meu tio ao colapso nervoso com sua sonoridade sibilante.

É belo quando duas pessoas compartilham os mesmos gostos. Acampam juntos, escalam montanhas, vão a missa. Mas aqui não é um espaço para apreciar afinidades. Neste blog se discute os atritos conjugais, mesmo aqueles que só se falam na surdina. E talvez por receio de quebrar o protocolo do ambientalmente correto, o antagonismo provocado pela presença dos animais domésticos só é comentado à boca pequena. No meu caso, sempre foi explícita a aversão do meu companheiro ao assunto. O coitado ficou traumatizado depois de passar anos e anos levando o cão da ex-mulher pra cagar três vezes ao dia.

Que me perdoem os animalistas, mas antes de passar com um bichinho pela porta da frente certifique-se que seu outro animal de estimação não saia pelos fundos. E aos que implicam com peludos, penados e afins, tire os ensinamentos das histórias a seguir.

Z. estava cansada de brigar, havia feito uma promessa de que passaria o feriado de carnaval só na curtição com o maridofe. Crente que era fácil, bastava um pouquinho de paciência e surdez voluntária, se distraiu e deixou Bad escapar. O dog alemão, que custou não só os olhos da cara mas todos os seis sentidos, era amado pela patroa de casa com muito menos intensidade que o seu dono. E por isso, as acusações seriam pesadíssimas e o arranca-rabo inevitável. Decida, Z. procurou o cão por horas a fio pelas ruas do bairro até que o descobriu num terreno baldio. Pulou a cerca para prendê-lo mas perdeu o equilíbrio e se espatifou no chão. Bad voltou pra casa sozinho, ela quebrou o pé e perdeu o pacote  para Salvador que tinha pagado o ano todo.

A outra história fala de uma menina que adorava gatos mas que se apaixonou por um rapaz com renite alérgica. Quando resolveram morar juntos, seu adorado Chambinho ficou com a mãe. Mas a senhora deixou esse plano astral antes do bichano.  E o casal passou a viver com prolongadas crises de espirros e mal dissimuladas ameaças de morte. Um domingo, enquanto sua adorada dona estava de plantão no trabalho, Chambinho, já cego de velhice, caiu das escadas. Com remorso por haver esquecido a cancelinha aberta, o rapaz correu para o veterinário pedindo a todos os santos que o gato não morresse, pelo menos não naquele dia. Mas o felino não sobreviveu, e o casamento quase teve o mesmo destino, Para remediar,  o arrependido moçoilo comprou para a esposa um filhote  de angorá e para si um estoque de anti-histamínicos.   
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