terça-feira, março 22, 2011

De quando perdi a razão e não mais a encontrei - final





No segundo dia, minha gastrite apareceu e piorou meu enjôo. Passar um weekend com all incluse (hotel, café da manhã, almoço, jantar) significava também horas e horas de tediosas palestras sobre a resistência do porcelanato retificado. Pra completar a minha sensação de mal-estar, durante todas as refeições era servida uma pasta de alho (o tal de aioli) que os mortos-de-fome da excursão lambuzavam em tudo que é petisco que aparecia:

- Já experimentou com o chouriço?
- Não, não.
- E com esses ovinhos de codorna?
- Depois eu como.
- Não esquece de provar no salmão cru. É uma delícia!

O estômago se contorcia todo. Sentia que o vômito estava bem próximo e eu sentada no meio da mesa enorme e de costas pra parede. Com tanta licencinha pra pedir, não chegaria em tempo ao banheiro. Me segurei e mantive a pose, mas mentalmente amaldiçoei tudo e todos: que viagem fudida do cacete, bosta de molho de aioli, o que eu tô fazendo nessa budega? (Perdoem-me as palavras chulas, o despautério é uma das demonstrações da insanidade que tomava conta de mim.)

Agora me pergunte se pela misericórdia divina fomos à praia curtir a brisa do mar e caminhar na areia com os pés descalços? É obvio que o diretor de eventos fez questão de ocupar todos os nossos segundos com visitas aos vários setores da quilométrica fábrica. E ainda nos mandou um motorista de microônibus que era um ser de outro planeta. Enquanto dirigia, usava três celulares e não parava de cantar If I Were a Boy de Beyoncé. So faltava os passageiros responderem I think I could understand, how it feels to love a girl . Eu me sentia presa num filme de David Lynch.

No meio da tarde comecei a salivar como um cachorro-louco, dias depois descobri que isso se chama sialorréia. Mas naquele momento me fez acreditar que definitivamente tinha perdido o controle sobre meu corpo. A sensação estranha e a sucessão de situações bizarras aliada aos comprimidos de dramin que tomei para controlar a náusea tolheram a minha percepção da realidade. Mais um pouco, e eu endoidecia de vez. Me vi zanzando com aquele camisolão horroroso gritando no hospício Esconde, esconde! Eles estão chegando!

- Senhora?
- Hum...
- Senhora?

Já começou. Estou ouvindo vozes. Surtei mesmo. Me internem!

- Senhora, por favor acorde.
- O que foi?
- A senhora adormeceu durante o trajeto. O seu marido pediu para não acordá-la, mas terminou o meu turno...

Era o motorista e eu estava sonhando. Que alívio o dia tinha acabado! Era uma afobação à toa. Mas precisava me acalmar, antes de voltar pro hotel passei na farmácia. Não quiserem me vender um antisiolítico sem receita, então comprei um teste de gravidez e descobri o que eu tinha.

"A loucura é hereditária, a gente herda dos filhos." (Léa Waider)

4 comentários:

  1. Por isso que o Taz é o Taz. Olha como a mamãe tomou conhecimento dele?
    hahahhaha
    inusitado, inteligente e diferente, como Você parece ser.
    Bjs Bjs

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  2. Boaaaaaaaa, adorei! rsrsrsrsrs.
    Nossa, parecia que eu estava ali do seu lado, kkkkkkkkkkkkkk

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  3. óóó coitada, kkkkkkkkkkk
    adorei
    o pior que é assim mesmo, eu tomava sal de frutas o dia inteiro

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  4. Que marido simpático vc tem em colega?????? Largar vc dormindo no ônibus... francamente!!!!

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