domingo, março 20, 2011

De quando perdi a razão e não mais a encontrei


Foi mais ou menos nesse período, dois anos atrás, que tive um revertério e faltou pouco para pirar de vez o cabeção.Vivi uma das situações mais surreais da minha vida que botou pra correr meu minguado juízo. Tudo começou quando meu marido foi convidado para conhecer uma importantíssima fábrica de um de seus fornecedores em um delicioso balneário turístico. Parecia uma oportunidade fantástica para passarmos um fim-de-semana às custas de um dos mais ricos industriais do país.

- Só tem um detalhe.
- Qual?
- Você deve fingir que é uma arquiteta.
- Eu? ? Mas não entendo nada de plantas.
- É pegar ou largar.
- E se me perguntarem alguma coisa?
- Invente. Não conheço ninguém com imaginação tão fértil como a sua.

Isso já era mais do que suficiente pra me deixar apreensiva. Acordamos cedo pra pegar o avião e já pressentia que ia dar merda aquele passeio. Minha cabeça latejava e uma náusea tomava conta do meu corpo. Tomei o primeiro de uma fila analgésicos que me deixaram grogue por quase todo o dia. Mesmo assim devia passar-me por uma arquiteta convincente. A princípio não parecia difícil. Era só ficar olhando para o teto, alisando as paredes, e se fixar no formato do piso com cara de quem descobriu a fórmula das havaianas.

Mas entre os visitantes que participavam do tour pelas instalações da fábrica começou a rolar um buxixo de que havia um espião da concorrência entre eles. Alguém tinha se infiltrado no grupo para descobrir não sei o quê do modo de produção. Meu complexo de perseguição avisou logo que suspeitavam de mim. Ai, ai, daqui a pouco eles vão me escorraçar daqui com um pé na bunda e uma conta de muitos zerinhos pra pagar.
Então alguém me pergunta:

- O que você achou da construção do edifício?
-Hã.. conseguiu captar muito bem a luz vinda do leste.
- Você quis dizer oeste.
- Ah, sim. Sempre me confundo com os pontos cardeais.

Quase me deu um siricutico de tanto nervoso. E nessas horas cadê o traste do meu marido? Eu prestes a ser expulsa, humilhada pela multidão e ele desaparece. Movida pelo desespero comecei a falar como uma desembestada e descobri que metade das pessoas que estavam ali também tinha pegado carona na boca-livre. Ô povinho miserável! Por sorte a acusação caiu sobre um rapaz que se mantinha distante do grupo, quase alheio às explicações da nossa incansável cicerone.

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