terça-feira, março 01, 2011

Quando eles não são bem-vindos


Depois de quase 30 anos de matrimônio, meus tios dão mostras de que vão se separar. Ele não a trocou por um modelo mais novo e turbinado e ela não se encheu da personalidade pouco complacente dele. Os dois enfrentaram a inflação, passaram pelo Plano Cruzado, a perda da caderneta de poupança, mas na paz da estabilidade do real o casamento começou a rachar. Um outro casal é a razão de tanta discórdia. Um macho e uma fêmea da família dos psitacídeos, mais conhecida como maritacas, estão levando meu tio ao colapso nervoso com sua sonoridade sibilante.

É belo quando duas pessoas compartilham os mesmos gostos. Acampam juntos, escalam montanhas, vão a missa. Mas aqui não é um espaço para apreciar afinidades. Neste blog se discute os atritos conjugais, mesmo aqueles que só se falam na surdina. E talvez por receio de quebrar o protocolo do ambientalmente correto, o antagonismo provocado pela presença dos animais domésticos só é comentado à boca pequena. No meu caso, sempre foi explícita a aversão do meu companheiro ao assunto. O coitado ficou traumatizado depois de passar anos e anos levando o cão da ex-mulher pra cagar três vezes ao dia.

Que me perdoem os animalistas, mas antes de passar com um bichinho pela porta da frente certifique-se que seu outro animal de estimação não saia pelos fundos. E aos que implicam com peludos, penados e afins, tire os ensinamentos das histórias a seguir.

Z. estava cansada de brigar, havia feito uma promessa de que passaria o feriado de carnaval só na curtição com o maridofe. Crente que era fácil, bastava um pouquinho de paciência e surdez voluntária, se distraiu e deixou Bad escapar. O dog alemão, que custou não só os olhos da cara mas todos os seis sentidos, era amado pela patroa de casa com muito menos intensidade que o seu dono. E por isso, as acusações seriam pesadíssimas e o arranca-rabo inevitável. Decida, Z. procurou o cão por horas a fio pelas ruas do bairro até que o descobriu num terreno baldio. Pulou a cerca para prendê-lo mas perdeu o equilíbrio e se espatifou no chão. Bad voltou pra casa sozinho, ela quebrou o pé e perdeu o pacote  para Salvador que tinha pagado o ano todo.

A outra história fala de uma menina que adorava gatos mas que se apaixonou por um rapaz com renite alérgica. Quando resolveram morar juntos, seu adorado Chambinho ficou com a mãe. Mas a senhora deixou esse plano astral antes do bichano.  E o casal passou a viver com prolongadas crises de espirros e mal dissimuladas ameaças de morte. Um domingo, enquanto sua adorada dona estava de plantão no trabalho, Chambinho, já cego de velhice, caiu das escadas. Com remorso por haver esquecido a cancelinha aberta, o rapaz correu para o veterinário pedindo a todos os santos que o gato não morresse, pelo menos não naquele dia. Mas o felino não sobreviveu, e o casamento quase teve o mesmo destino, Para remediar,  o arrependido moçoilo comprou para a esposa um filhote  de angorá e para si um estoque de anti-histamínicos.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...