sábado, outubro 02, 2010

Fazer (de) conta

Poucos instantes antes de pronunciar o impaciente sim, as mãos se entrelaçam e o padre começa a benção do matrimônio já questionando"Você aceita como seu legítimo esposo..." Nessa hora, o que passa pela cabeça da noiva? "Tá dando pra ver minha barriga?" ou s"erá que meu dente tá sujo de batom?".  Muitas nem se lembram. Eu, sim. Pensava na conta do bufet. Tinha presumido que 20% dos meus convidados não viriam. Era véspera de feriado, poderiam estar na praia. Ao contrário, preferiram uma divertida festa de matrimônio. Tão divertida que chamaram mais amigos.

Minha primeira opção para arcar com as despesas era adotar o costume europeu de receber envelopes com cheques gordinhos em vez de jogo de pratos. Ninguém aceitou. Oh povinho provinciano! A segunda alternativa era pegar o microfone e mudar o discurso: "se alguém aqui presente tem um motivo, por menor que ele seja, para duvidar da proc"edência dos salgadinhos pode sair agora". Faltou coragem, mas sobrou premonição. Intuí que calcular débitos em um momento sacro não traz bom augúrio para a saúde financeira do casal. 

E de fato aconteceu. Meu marido passa longe de ser parcimonioso com as despesas domésticas. Há tanta fixação em gastar nosso suado dinheirinho que desconfio que queira pagar pra ver se cumpro a promessa de lhe ser fiel na pobreza. Com isso, desenvolvi um instinto de sobrevivência para usar sempre que ouço a frase. "Amor, o que você acha d’agente comprar"... Por favor, não me vejam como uma mesquinha sem coração.Tenho pavor de terminar como minha amiga M. Casada há quatro anos, mãe de três filhos, sendo dois gêmeos. Ela trabalha como caixa. Ele, esvazia o caixa. Fazer de conta que contas não existem é a sua especialidade. Por que tolerar um esbanjador? "Serve como babá e empregada,mas sem direitos trabalhista".

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