sexta-feira, outubro 01, 2010

A sabedoria do acaso



Hoje começa uma nova etapa na minha vida de casada. Vamos reformar a cozinha. Um casal que decide passar por uma experiência semelhante há somente um pensamento: tornar mais cômodo, mais aprazível um lugar da casa. Nenhum dos dois escreveu uma carta ao Senhor, pedindo para passar por uma dura prova a fim de verificar a solidez do seu relacionamento. Mas sobreviver a uma casa em obras não é pra qualquer um. Imagine a sua paciência sendo portada ao altar de sacrifícios, torturada pelo pedreiro, pela sujeira, pela enésima comida semi-pronta do microondas. Como se não bastasse, haverá uma pessoa lhe lembrando a todo momento que foi você quem insistiu pra fazer aquela porcaria de reforma.

Depois de polemizar sobre cor, formato, tamanho, preço, fomos escolher o granito da bancada da pia. Na marmoraria, tivemos de esperar. Uma senhora recém viúva escolhia a lápide do seu defunto. Quanto zelo! Era de enternecer o coração como se dedicava à tarefa de decidir qual pedra era mais bonita. Com a epígrafe foi mais rápida e a meiguice terminou ali.  “Marido infiel, pai ausente, mas felizmente homem de pouco saúde”. Naquele momento, o destino me sorriu.Que belíssimos ensinamentos pode trazer um encontro fortuito.  Só posso dizer que a paz voltou a reinar majestosamente na minha casa até o último revestimento da parede ser colocado.

Útil dizer que não somos supersticiosos, pé de pato, mangalô, três vezes. Se falar sobre o assunto pode não ser auspicioso, pelo menos no dia teremos um problema a menos para resolver. Assim, decidimos qual seria a definição que cada um carregaria pela eternidade. A minha seria espirituosa: “morreu sem ter usado um Manolo Blahnik”. A dele, no seu entender, mais autêntica: “nunca escreveu um blog”.

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