segunda-feira, outubro 04, 2010

Nunca te falei pra não te ofender


A frase acima pode até vir acompanhada de uma voz melíflua, mas nunca será açucarada o suficiente para esconder a judiação. Quando é introduzida no meio de uma guerra declarada, o efeito não é tão desastroso. É tomada apenas como mais um ataque. O estrago maior acontece num momento inesperado. Tipo uma manhã de domingo, entre o pãozinho com manteiga e o café quentinho. A xícara pára no ar aguardando a continuação da conversa. Ele reflete um pouco. Você se sente desprevenida, desarmada. E repassa todos os seus grandes defeitos. A depender da pausa, dá tempo para rever também as pequenas e secretas falhas, aquelas nunca ditas.

De certo, algum leitor já aplicou essa tática ou foi submetido a um artifício semelhante. É da série “a mão que afaga é a mesma que apedreja”. Um estratagema oportunístico. Basta esperar, e a convivência lhe fará conhecer todo os pontos fracos do inimigo, então é só usar quando convém.  A sabedoria está na sutileza. O primeiro mundo em termos de briga entre marido e mulher, pra não dizer que é uma forma bem civilizada de sadismo. Quando aconteceu com a inocente da minha prima N., ela pensou ter ouvido como continuação do discurso somente um comentário despretensioso sobre sua massa corpórea e respondeu candidamente: "Faço academia só para passar o tempo. Não sou gorda". Pobrecinha!

O deleite em fazer sofrer pisando bem na ferida há diversas causas. Vingança, complexo de inferioridade, perversão sexual. Como disfarçar? A retórica, nesse caso, é essencial. Diga que está apenas expressando sua opinião. É importante preservar a individualidade. O casamento não é uma mordaça para idéias em contrário. Por falar em silêncio, o meu acabou. Depois de um pigarro para disfarçar o embaraço, seguiu o deboche: "não é educado bocejar sem tapar a boca". Como revidar sem parecer insultada ou embaraçada?  Paciência, aguarde a sua vez.

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