terça-feira, dezembro 07, 2010

O bolor que me consolou


Hoje acordei com um anseio irresistível  de tirar o mofo do box do banheiro. Há tempos que aquelas manchinhas nojentas me incomodavam. Na hora do banho, no momento de relax total, água morninha no corpo, espuma cheirosinha escorrendo devagarinho. De repente,  você olha pra baixo e lá estão elas. Impertinentes. Ficam te espiando, zombando de ti. Nunca conseguia removê-las completamente. Depois de cada faxina, elas escapavam sorrateiramente para os ângulos difíceis de serem alcançados pela esponja. Alí, as insolentes se reproduziam de forma avassaladora.

Perturbava-me deveras, mas fui postergando essa empreitada doméstica. Faltava vontade e uma super escovinha. Encontrei-a numa lojinha de utilidades desnecessárias. Era estranha, tortinha. Mas foi um achado. A coragem chegou no domingo de manhã depois de mais uma tentativa de sermos o que não somos. A frustração fez nascer dentro do meu ser o desejo de passar horas no esfregão daquele bolor. Senti que aniquilar a população de fungos me consolaria a alma.

Assim, me enchi de coragem, luvas e detergente potentíssimo.  E como sempre, nesses momentos em que me entrego totalmente a minha profissão de fé, aproveito para fazer as minhas reflexões cotidianas. Sábado à noite, jantamos com um casal de amigos. Agradabilíssimos. Sempre afáveis conosco, mas principalmente entre eles. Por gentileza, pode me passar o sal. Com prazer, querida. Achei lindo!

Amabilidade no meu casamento é como o ar-condicionado que compramos no cartão, só usamos o estritamente necessário.  Pouco antes de dormir cutuquei o maridinho. Propus que deveríamos ser mais delicados um com outro. Ele, com sua sinceridade desconcertante: tudo bem, tesouro. Então, por cortesia, pode me dar a bundinha?

3 comentários:

  1. A gentileza definitivamente não faz parte da índole masculina, com exceção dos momentos em que se faz necessária para conquistar o que se almeja. Enfim... vida longa ao bolor!

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  2. Tenho um amigo que é um achado. Qualquer dia a esposa dele cai dura de tanta inveja que tenho dela! Quando ela está assoberbada com o trabalho, ele faz as gentilezas:
    - de lavar a louça;
    - de passar o arpirador na casa;
    - lavar a roupa;
    - cozinhar (como ele não sabe, compra algo que venha num pacotinho);
    - lava a louça.

    Se bobear, ele é quem limpa o bolor!

    E claro, é gentil com as palavras também.

    E eu continuo com meu maridinho em casa, limpando o mofo.

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  3. eu e meu bolor... pelo menos meu marido divide a limpeza comigo....kkkkkkkk

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