O pior era acordar às segundas, quartas e sextas com o vizinho que fazia a barba. Como é possível? Experimente morar numa casa em que as paredes não passam de 15 centímetros de espessura e você sentirá até o prestobarba bater na pia do banheiro. Pelo menos não era elétrico, dirá o caro leitor. Seria um suplício matinal. Mas o tacanho do lado não nunca iria desperdiçar dinheiro com aparelhos inúteis, caros e extravagantes. É a sua resposta ao consumo de qualquer eletrodoméstico. O homem era um muquirana de primeira, obcecado em poupar corrente elétrica. Aí de mim se deixasse a luz do corredor acesa. Quem diria sim no altar segurando um mão de vaca?
A minha vizinha H... mas por que ela não dava um pé na bunda desse avarento? Lembra da primeira frase que eu escrevi. Não me referia à nossa intimidade, mas a deles. O cara economizava energia durante o dia para gastar à noite. E o pobre do meu amorzinho dizia: é um maníaco, um doente. Queria evitar comparações com o seu desempenho. Estávamos juntos da pouco e eles já tinham feito bodas de bronze.
Já fez alguns anos que me mudei daquele bairro. Mas outro dia encontrei os nossos antigos vizinhos na fila do banco. Ela ainda conservava aquele olhar de satisfeita quando nos víamos pela manhã na padaria. Ele, dentro da calça, a mesma apólice que assegura seu casamento, gratuita claro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário