sexta-feira, setembro 24, 2010

Beleza põe firmeza

Meu marido não faz o ciumento escancarado, daquele que carrega nas perguntas. Onde você foi? Com quem? Quantos homens tinham lá? Esse é o tipo que as minhas amigas escolheram pra casar. O meu, a desconfiança transparece no olhar. Não pense que estou dormindo. Tô com um olho aberto e outro fechado. É dessa maneira que me está fixando agora, enquanto escrevo. É suspeitoso do tempo que passo no computador, mas não desce um degrau do seu orgulho para saber o que estou fazendo. Prefere o ataque sutil, como na vez em que disse que meu aspecto estava desagradável à vista. Amor, até os olhos querem a sua parte. Não quer também um soco no meio?

Penso que a beleza não traz só sensações prazerosas para a companhia do lado, ela também faz triunfar até o fracasso mais presumível. Essa reflexão me veio em mente depois que fui à festa de uma antiga colega de escola. I. era uma garota que passava longe da graciosidade. A falta de charme lhe fazia ser esnobada pelos meninos e humilhada pelas meninas. Piada maldosa da época: só em duas ocasiões o padre lhe dirigirá a palavra, batizado e funeral. Ninguém apostaria um centavo que um dia I. atravessaria a igreja vestida de branco. Qual não foi a minha surpresa ao receber o seu convite de casamento.

Por que alguém que eu não via há quase duas décadas me chamaria para sua cerimônia de matrimônio? Fiquei intrigada com esse pensamento até ver o noivo. Pense num moço bonito. Agora multiplique por cem. Uma pãozinho doce. A estaca de firmeza que segura qualquer relacionamento. Finalmente a menina feia conseguiu atrair todos os olhares de cobiça que nunca tinha recebido. Bem, o alvo não era propriamente ela, mas quem se importava?

Muitas mulheres se importavam. A que encontrei no banheiro feminino espirrava veneno: Meu primo já ficou com ele. E daí? Minha colega I. nunca foi ciumenta.

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